Amado pastor, permita-me uma sinceridade franca, peço que leia até o fim.
Tenho estado preocupado com uma coisa.
No último culto da igreja, o senhor falou sobre política e afirmou uma posição política.
Eu reparo que na visão de João da grande multidão dos salvos, que ninguém pode contar, ele viu pessoas “de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro” (Ap 7:9). Quando eu penso nessa visão maravilhosa, eu enxergo a diversidade máxima possível, no grande rebanho de Cristo, em todos os assuntos que não forem a direta fé em Jesus e simples obediência a Seus mandamentos, pois nessa grande multidão terão pessoas de todos os tempos, de todas as culturas, de todos os sistemas politicos, de todos os sistemas econômicos, de todos os países, de todas as raças, de todas as tribos, de todas as línguas, e nenhuma dessas diferenças terá sido barreira para alguém ser aceito por Cristo e chamar cada um dos outros de irmão.
Eu observo também que Jesus chamou para Seus discípulos um publicano chamado Mateus (Mt 10:3) e um zelote chamado Simão (Lc 6:15). Em termos políticos, os dois estavam num extremo oposto. Um era colaborador do Império Romano, e o outro queria se libertar do Império Romano. Imagino que no primeiro momento, cada um dos dois pensavam, que o outro não era digno de seguir Jesus. Mas entendo que com isso Nosso Senhor deixou um exemplo de aceitação dos pensam diferente de nós, no meio da Sua igreja.
E isto porque Ele estava nos chamando para o Reino de Deus, não para o reino dos homens, um Reino superior, um Reino de cima, um Reino do Céu, um Reino espiritual, que portanto, transcende os reinos terrenos, de baixo, dos homens, cheios de imperfeições, incertezas, pecados e erros. Sobre isso o meu Senhor disse: meu reino não é deste mundo (Jo 18:36), e quando O quiseram fazer rei, Ele se recusou (Jo 6:15), quando pediram para agir como juiz, recusou também (Lc 12:13,14). Ele também disse que “o Reino de Deus não vem com aparência visível” mas “está dentro de vós” (Lc 17:20,21). Assim o Reino de Deus não pode ser vinculado, nem identificado com as instituições humanas e terrenas.
Afinal, “todas as ideologias políticas, sistemas econômicos e cargos de governo são apenas invenções humanas imperfeitas, falhas, temporárias, limitadas, relativas, e manchadas pelo pecado; sendo portanto indignas de lealdade absoluta, e emprestar-lhes o mínimo grau de devoção, ou viver em função delas, são formas de idolatria que devemos repudiar. Pois nosso único compromisso absoluto é com o senhorio de Jesus Cristo, conforme expresso na Escritura e na nossa consciência movida pelo Espírito Santo.
Pois nosso único Senhor é Jesus Cristo, nosso único poder é o do Espírito Santo, nosso único conteúdo é a Bíblia, nosso único método é a pregação do Evangelho, nossa única missão é fazer discípulos e nosso único alvo é a glória de Deus Pai. Portanto, enquanto igreja, todas nossas reuniões e dependências devem ser consagradas exclusivamente a estes propósitos, e toda concessão de palavra aos participantes tem exclusivamente estes objetivos.
E, enquanto igreja de Cristo, leal somente a Cristo, a serviço somente de Cristo, não somos nem vinculados, nem patrocinados, nem associados, nem subalternos a nenhum candidato, nenhum político, nenhum partido, nenhuma ideologia e nenhum sistema econômico, somos completamente independentes deles, nunca devemos ter como igreja nenhum compromisso de promover ou combater nenhum deles, e nunca desejaremos ser promovidos ou sustentados por eles, pois nisso incorreríamos no pecado de tomar o nome de Deus em vão, deixando de cumprir a missão que Ele nos deu, da forma ordenada na Escritura, pois somos agência do Reino de Deus, e só de Deus, e não estamos a serviço dos interesses terrenos dos homens, sejam quem forem.
Ainda que possuindo convicção do que cremos, reivindicamos e promovemos para todo ser humano a completa liberdade de fé, religião e associação, pois "cada um prestará contas a Deus" (Rm 14:12), pressupondo assim também as liberdades de crença e de pensamento, as quais implicam em liberdade política e ideológica para todo ser humano.
Para a recepção de membros e validação de seus ministérios, nossos critérios são somente os que são mencionados pelo Novo Testamento, como a fé em Jesus Cristo e a busca da santificação pessoal. Portanto não podemos rejeitar, discriminar ou disciplinar um irmão em Cristo apenas por causa das posições políticas ou ideológicas que ele tiver, pois elas não são, necessariamente, nem sinais de conversão, nem de falta de conversão.
Há distinção entre o que o cristão pode fazer como indivíduo em sua vida particular, onde ele pode ter posição política, e o que ele deve fazer enquanto presente nas reuniões e dependências da sua igreja, as quais devem ser politicamente neutras.
O membro da igreja é livre para, sem receber pressão da parte de outros, ter qualquer posição política ou nenhuma, qualquer ideologia ou nenhuma, votar em qualquer candidato ou nenhum, bem como declarar ou não declarar seus posicionamentos. Porém, se ele os declarar, deverá fazê-lo em sua vida particular, fora das reuniões e dependências da igreja;
Se o membro da igreja em sua vida particular, fora das reuniões e dependências da igreja, promover suas posições políticas, ele deverá sempre fazê-lo de maneira coerente com o apreço devido de um servo de Jesus à verdade, à honestidade, à sinceridade, à prudência, à dignidade, à mansidão, ao respeito, ao amor, à misericórdia e à paz, para evitar que sua atividade política profane o santo nome de Jesus, a quem ele afirma servir” [1].
Na Bíblia eu leio Jesus dizendo que “quem comigo não ajunta, espalha” (Mt 12:30), mas a politica é, por natureza, um assunto que espalha e divide as pessoas. Se na igreja nós falássemos só sobre Jesus Cristo, porém, promoveríamos a união que Ele ordenou.
Também leio Jesus nos ordenando “pregar o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15), de maneira que a pregação da graça de Deus, da salvação, do perdão dos pecados, e o oferecimento de Cristo como Salvador deve chegar a todas as pessoas, mas se na igreja a pessoa encontrar um posicionamento político diferente ou até hostil ao posicionamento político dela, isso será uma barreira para ela ouvir o evangelho.
Também leio que na igreja não devemos ir além do que está escrito (1Co 4:6), que devemos falar segundo a Palavra de Deus (1Pe 4:11), que os exemplos do ministério de Paulo foram: “nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2:2), “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor” (2Co 4:5), de maneira que ter uma fala de posicionamento político nas reuniões da igreja, mesmo que bem intencionada, pode quebrar esses princípios.
Quando a Biblia fala de evitar o jugo desigual com os infiéis (2Co 6:14-18) eu penso que isso se aplica à militância política. Pois se trata de um jogo sujo, onde a mentira é a regra e a verdade é a exceção. Quando o grupo político do militante está no poder, o militante exagera as coisas boas e nega as coisas ruins que seu grupo faz. Quando outro grupo está no poder, ele nega a coisas boas e exagera as coisas ruins que o outro grupo faz. Jogar esse jogo sujo não é digno de qualquer cristão.
E para o ministro do Evangelho é pior. Pois dele o povo de Deus espera uma orientação baseada na Palavra. O chamado de Deus é elevado demais para que um pastor se rebaixe ao papel de mensageiro do mundo para a igreja de Cristo, ao invés de mensageiro de Cristo para o mundo. Usar o precioso tempo da reunião dos discípulos de Jesus, em nome de Jesus, para promover uma posição política não seria “tomar o nome de Deus em vão”? Não devia o pastor falar “como de Deus na presença de Deus” (2Co 2:17)? “Aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? Diz o Senhor” (Jr 23:28).
Com amor e preocupação, e o máximo respeito, permita-me perguntar se o amado pastor não deveria repensar, com calma, critério e oração, diante de Deus, os grupos de redes sociais que freqüenta e as fontes de informação que utiliza, se elas fazem mais bem ou mais mal ao seu coração e à sua mente. Pode da fonte amarga da política brotar algo doce? (Tg 3:11). E a Bíblia também diz “não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15:33).
Termino fazendo um apelo a que o amado pastor evite falar de assuntos políticos na igreja, e principalmente que evite, ao ministrar a Palavra, tomar alguma posição política, para que a pregação “de Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2:2) em seu ministério permaneça pura da má influência dos políticos, e não crie escândalos ou barreiras que obscureçam a glória e universalidade do Evangelho.
Permita-me a liberdade e sinceridade acima, afirmo que é bem intencionada e sem parcialidade.
“Considera o que digo, e o Senhor te dê entendimento em tudo” (2Tm 2:7).
Texto de Marcos Lopes.
[1] Resoluções para igrejas durante eleições. LOPES, M. Texto eletrônico disponível em <https://docs.google.com/document/d/1X6MxmhrjQGYMOH0Fb4sqJgi4zu4YXRE4NMKJUVMsDq4/edit?usp=drive_link> (12/08/2025).
Resoluções para igrejas durante eleições - https://www.youtube.com/live/xCcKTWghw0k?si=mJNqiTiM5vt3pOmr
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Catecismo Batista Ampliado. LOPES, M. (Org.).Versão 46 (29/07/2025), em edição.
TEXTO COMPLETO - https://bit.ly/CATECISMO-BATISTA-AMPLIADO
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Eclesiologia: Doutrina Bíblica da Igreja. LOPES, M. Versão 43 (18/04/2025).
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