Dirk Willems salvando seu perseguidor.
Lição 1 - Liberdade Religiosa - VIDEO AQUI
Tema: Somos livres para crer ou não crer
Divisa: Cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus (Rm 14:12)
No inverno de 1559, Dirk Willems, da Holanda, foi descoberto como um anabatista, crença proibida em seus dias, e por isso um caçador de ladrões veio prendê-lo na vila de Asperen. Correndo para salvar sua vida, Dirk chegou a um lago coberto por uma fina camada de gelo. Depois de atravessar em grande perigo, ouviu os gritos do seu perseguidor, pois ao tentar o mesmo, o gelo havia cedido sob os pés dele. Dirk parou e voltou para puxá-lo pelo braço, arrastando-o até a margem. Profundamente comovido pelo seu gesto, o caçador iria deixá-lo ir, mas outras autoridades chegaram naquele momento e o obrigaram a prendê-lo. Seus crimes eram ter sido rebatizado, fazer cultos clandestinos na sua casa e batizar outros crentes ali1.
Esta história ilustra o drama de viver em uma sociedade sem liberdade de religião. Se para nós no século XXI parece absurda a criminalização de uma crença religiosa diferente, ainda mais pela fé que a pessoa exerce dentro da sua própria casa, devemos recordar que tais direitos individuais não se adquiriram instantaneamente, sem sacrifício e esforço de muitas vidas ao longo da história. A igreja batista é uma denominação cristã que desde o seu nascimento levanta essa bandeira, não só para si, como para todos os seres humanos e todas as religiões. Os motivos para isso veremos nesta lição.
1.1 - O QUE É LIBERDADE RELIGIOSA?
É o conceito de ser:
(...) “inalienável a liberdade de consciência, a plena liberdade de religião de todas as pessoas. O homem é livre para aceitar ou rejeitar a religião; escolher ou mudar sua crença; propagar e ensinar a verdade como a entenda, sempre respeitando direitos e convicções alheios; cultuar a Deus tanto a sós quanto publicamente; convidar outras pessoas a participarem nos cultos e outras atividades de sua religião; possuir propriedade e quaisquer outros bens necessários à propagação de sua fé. Tal liberdade não é privilégio para ser concedido, rejeitado ou meramente tolerado – nem pelo Estado, nem por qualquer outro grupo religioso – é um direito outorgado por Deus. Cada pessoa é livre perante Deus em todas as questões de consciência e tem o direito de abraçar ou rejeitar a religião, bem como de testemunhar sua fé religiosa, respeitando os direitos dos outros.” (Princípios Batistas da CBB, artigo 2.32).
1.2 - QUAIS AS BASES BÍBLICAS DESSE CONCEITO?
1.2.1 - A regra áurea da ética de Jesus nos impede de restringir a liberdade religiosa dos outros. Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós (Mt 7:12), amarás ao teu próximo como a ti mesmo (Rm 13:9). Amar aos outros como a nós mesmos implica em desejar para eles o mesmo benefício que desejamos para nós. Assim como desejamos liberdade de crença, de reunião, de culto e de religião para nós, devemos querer exatamente a mesma liberdade para outros, mesmo em se tratando de religiões que negam a Jesus como Salvador. Não queremos ser impedidos ou punidos por exercer a nossa fé, então não podemos impedir ou punir ninguém por ter e exercer uma fé diferente.
1.2.2 - A responsabilidade final da relação com Deus é individual. Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, E toda a língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus (Rm 14:11-12). Não é o governante que dá contas do seu povo, nem o pai que dá contas do filho, mas cada um que dá contas de si. A relação com Deus é, portanto, um assunto particular, de maneira que um ser humano não pode governar a relação que outro ser humano tem com Deus. Se Deus mesmo deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos (At 14:16), e na teocracia de Israel ainda lhe foi dito “escolhei hoje a quem sirvais” (Js 24:15) quanto mais nós temos que deixar as pessoas escolherem?
1.2.3 - Convencer os homens do pecado, e da justiça e do juízo (Jo 16:7-8) para que creiam no Evangelho de Jesus é obra do Espírito Santo: cremos segundo a operação da força do seu poder (Ef 1:19), ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo (1Co 12:3). Isto não é obra de homem algum, nem mesmo dos evangelistas, pois a eles cabe somente proclamar a Palavra. O resultado da pregação é assunto entre o ouvinte e Deus. De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus (Rm 10:17). Não se reconhece ou se estabelece outro meio para que a conversão aconteça. A fé não vem pela força, pelo ritual, pela lei, por decreto, pelo país em que nascemos, ou por sermos filhos de crentes, mas por ouvir a Palavra. Então, se com toda a sinceridade queremos que os outros creiam, nos cabe unicamente lhes pregar a Palavra de Deus, que é a espada do Espírito (Ef 6:17), isto é, o instrumento que o Espírito Santo usa para converter os homens.
1.2.4 - O indivíduo tem que formular sua própria resposta ao Evangelho. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? (Rm 10:12-14). Para a pessoa ser salva, tem que ouvir a pregação, crer, e invocar o nome do Senhor. Assim, a parte que cabe a outro ser humano para ajudá-la a se salvar termina qual ele lhe prega o Evangelho. Feito isso, não podemos ouvir pelo outro, nem crer pelo outro, nem invocar pelo outro. Qualquer quebra deste princípio arrisca-se a promover uma religião formal, sem realidade interior, um povo que se aproxima de Deus com a sua boca e O honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe dEle (Mt 15:8) porque não teve com Deus uma experiência real e individual de conversão, apenas seguiu o que lhe foi imposto.
1.2.5 - A união à igreja de Cristo é voluntária. No dia de Pentecostes, foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas (At 2:41), ou seja o juntar-se à igreja, sendo batizado por ela, era por livre disposição dos ouvintes. Ninguém os forçou a crer em Jesus, e muitos dos que ouviram a pregação, não creram, e portanto não se juntaram. O que se faz nesse caso? Nada, se direciona a pregação a quem queira ouvir: Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios (At 13:46).
1.3 - QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DESSE CONCEITO?
1.3.1 - Devemos estar sempre alertas contra a perseguição religiosa em nosso próprio meio. Se analisarmos o contexto da história do início desta lição, repararemos que os perseguidores de Dirk Willems eram cristãos também! Então, aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe para que não caia (1Co 10:12)! Um verdadeiro cristão pode ser perseguido (2Tm 3:12), mas nunca devia perseguir ninguém. Infelizmente ao longo da história muitos têm descoberto que a profecia do Senhor, vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus (Jo 16:2), não se cumpriu somente na perseguição do judaísmo contra os primeiros cristãos, mas também pode acontecer de cristão para cristão, embora eles devessem se considerar irmãos. Muitas dessas perseguições ocorreram por causa de uma equivocada união entre Igreja e Estado... mas isso será tratado na próxima lição, sobre a necessária separação entre essas esferas.
Ao ler as narrativas bíblicas de perseguição religiosa tais como as que sofreram Daniel e seus amigos, sobre quem fizesse petição a qualquer deus, ou homem, e não ao rei, fosse lançado na cova dos leões (Dn 6:7), e quem não se prostrasse e adorasse a estátua de ouro, fosse lançado dentro da fornalha de fogo (Dn 3:5,6), devemos tomar cuidado para não projetarmos o pecado nelas descrito somente à perseguição de religiões pagãs contra a fé bíblica. E nós também, mesmo dentro da igreja, não construímos alguma “estátua de ouro” e exigimos que os outros a venerem? Não seria a estátua de ouro da nossa denominação, da nossa doutrina, nossa tradição, nosso estilo de culto, nosso modelo de igreja, nossos métodos, nossas propostas, nossas vontades e nossas preferências? Também na própria igreja e contra nossos próprios irmãos, é possível cometer esse erro? É possível com presunção tomarmos a nós mesmos como cânon divino, e pensarmos erroneamente “se eu sou de Deus e Deus está comigo, todo que discordar de mim está sendo usado pelo Diabo”? Isto é, também podemos perguntar “a quem nós estamos prontos para lançar na nossa cova dos leões e na nossa fornalha, por crer diferente de nós”? Os muçulmanos? Os candomblecistas? Os espíritas? Os católicos? O fato de nós crermos no Evangelho nos dá direito de os discriminar como seres humanos, e desrespeitar seu direito de escolher sua religião? É certo que biblicamente podemos atribuir ao Diabo e seus anjos a origem e patrocínio de toda falsa religião, conforme 1Co 10:20, mas as pessoas que as praticam não devem ser demonizadas. Isto é, elas são vítimas do engano do Diabo, e devem ser alvo do nosso amor, misericórdia e paciente testemunho do Evangelho de Cristo, para que possam ser salvas. Discriminá-las não ajuda esse testemunho, e somos exortados a promover a paz com todos os homens (Rm 12:18).
1.3.2 - Crer na liberdade religiosa de todos não significa abrir mão das nossas convicções. Nosso testemunho pode e deve ser claro e direto na proclamação do juízo de Deus sobre o pecado e de Jesus como única esperança de salvação, desde que acompanhado do respeito ao direito de crer diferente ou de não crer, que cada um dos nossos ouvintes sempre tem. Os cristãos do Novo Testamento anunciavam com ousadia a palavra de Deus (At 4:31) mas ao mesmo tempo, não exerciam nenhuma pressão sobre a vontade dos ouvintes, apenas lhes proclamavam seu desejo sincero: “Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo, se tornassem tais qual eu sou [, cristão] (At 26:28-29)”
1.4 - QUE OUTRAS QUESTÕES PODEM SER LEVANTADAS PARA APROFUNDAMENTO DESTE TEMA?
1.4.1 - Que exemplos podem ser dados de como aplicar o princípio de Jesus ‘trate os outros como gostaria de ser tratado’ (Mt 7:12) às nossas relações com pessoas de outras religiões?
1.4.2 - A quais tipos de relações sociais se aplica o conceito de ‘jugo desigual’ (2Co 6:14-18), além do casamento?
1.4.3 - Que atitudes de distanciamento de outras religiões extrapolam o conceito de jugo desigual e constituem discriminação contra pessoas de outras religiões, que devem ser evitadas?
1.4.4 - O que é o respeito devido às crenças religiosas das pessoas? Qual a dosagem equilibrada para respeitar, mas sem aprovar, as religiões divergentes? Qual seria a distância necessária às práticas religiosas contradizentes ao Evangelho?
1.4.5 - Temos liberdade de nos reunir, pregar, orar e louvar em locais públicos? Temos aproveitado essa liberdade para pregar o evangelho a toda criatura?
1.4.6 - Mesmo ao cumprir a missão de pregar o evangelho de Jesus, respeitamos a decisão das pessoas quando elas não querem crer?
1.4.7 - Em nossa sociedade temos liberdade religiosa? Na nossa sociedade temos liberdade de crer, propagar e praticar qualquer religião? Deve haver alguma lei na sociedade proibindo algum tipo de religião ou prática religiosa? Há limites para a liberdade religiosa? Quais?
1.4.8 - Temos liberdade de trabalhar em feriado religioso ou folgar em feriado religioso? À luz do princípio da liberdade religiosa, deveriam haver feriados religiosos obrigatórios na sociedade? Como resolver a questão dos dias de observância religiosa na sociedade, se religiões diferentes implicam em dias diferentes?
REFERÊNCIAS:
1 - Este parágrafo é uma tradução e adaptação livre de LIECHTY, J. <https://amnetwork.uk/resource/why-did-dirk-willems-turn-back/> (07/08/2021).
2 - <http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?MEN_ID=21> (14/08/2021).
FIGURAS:
Página 3 - <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dirk.willems.rescue.ncs.jpg> . Jan Luyken, Public domain, via Wikimedia Commons. (14/08/2021).
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