30/04/2022

O sangue de Jesus nos purifica de todo pecado - 1Jo 1:5-7 - Estudo Bíblico 2

 

o sangue de jesus nos purifica


1João 1:5-7

5 - E esta é a mensagem que dEle ouvimos, e vos anunciamos: 

que Deus é luz, e não há nEle trevas nenhumas.

6 - Se dissermos que temos comunhão com Ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade.

7 - Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, 

e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.


VÍDEO  

#JESUS #EVANGELHO


5a - E esta é a mensagem que dEle ouvimos, e vos anunciamos: 

tudo o que Jesus foi, disse e fez resplandeceu essa “notícia” de que “Deus é luz”

5b - que Deus é luz, e não há nEle trevas nenhumas.

Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta (Tg 1:13). Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos; Mas a seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador; (Tt 1:2-3). 

BARCLAY

Podemos confiar-lhe toda a nossa confiança, porque nele existe somente luz pura. Fala-nos da pureza e da santidade de Deus. A luz clara é o autêntico símbolo de sua pureza resplandecente. Não há trevas que

ocultem algum mal secreto em Deus; nem sombra de nada que essa luz tema. A evidência de que Deus é luz surge para nós da pureza imaculada e a imaculada santidade do Deus totalmente santo. (4) Fala-nos da guia de Deus. Uma das mais importantes funções da luz é guiar e tornar fácil o caminho; assinalar o caminho para partir. A uma luz no longínquo horizonte o homem dirigirá seus passos na escuridão da noite. O caminho iluminado é o caminho sem tropeços. Dizer que Deus é luz significa dizer que Deus oferece guia aos passos do homem.

(5) Fala-nos da qualidade reveladora na presença de Deus. A luz é a grande reveladora. Falhas ocultas pelas sombras ficam a descoberto pela luz. Manchas e sujeira que nunca poderiam ver-se na escuridão ficam a descoberto pela luz. A luz revela as imperfeições de qualquer material ou trabalho do homem. Da mesma maneira ficam à vista de Deus as imperfeições da vida. Nunca podemos conhecer as profundezas a que tem caído a vida ou as alturas até as que pode elevar-se, até vê-la na reveladora luz de Deus.


6 - Se dissermos que temos comunhão com Ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade.

A comunhão com Deus implica em separação das trevas, uma vez que Deus é luz e nEle não há trevas. 

BARCLAY

O caráter de uma pessoa estará determinado necessariamente pelo caráter do deus a quem adora. (1) As trevas significam a vida sem Cristo. Representam a existência do homem antes de encontrar-se com Cristo, ou a vida que se vive separada dEle. João escreve a seu povo que, agora que Cristo chegou, as trevas passaram e brilha a luz (1 João 2:8). Paulo escreve a seus irmãos crentes que uma vez eles foram trevas, mas que agora são luz no Senhor (Efésios 5:8). Deus — diz — nos libertou do poder das trevas e nos conduziu ao Reino de seu amado Filho (Colossenses 1:13). Os cristãos não estão em trevas porque são filhos do dia (1 Tess. 5:4). Aqueles que seguem a Cristo não andarão em trevas, como outros, mas sim terão a luz da vida (João 8:12). Deus chamou os cristãos das trevas à sua luz admirável (1 Pedro 2:9). No Novo Testamento as trevas sempre significam a vida sem Cristo, a vida sem Deus. (2) A escuridão é inimiga da luz. No prólogo a seu evangelho, João escreve que a luz brilha nas trevas e as trevas não prevaleceram contra ela (João 1:5). Diz que se pessoas que crêem estar especialmente adiantadas ainda andam em trevas, não estão praticando a verdade. 



7a - Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, 

O fato de andarmos na luz, estarmos no caminho de Cristo, o caminho da santidade, é suficiente para comunhão com Deus e com os irmãos. O contraste andar nas trevas e andar na luz se refere ao caminho da nossa vida. Se conhecemos a Deus em Cristo, nossa vida caminha para a total separação de todo tipo de trevas, isto é, de todo o tipo de mal, pecado e injustiça. Essa separação definitiva e completa ainda está para ocorrer, mas sua crescente, gradual e contínua realização deve se manifestar na vida do que verdadeiramente está em comunhão com Deus e por isso mesmo que tem algo em comum com seus irmãos, o estarem no mesmo caminho e andando todos na mesma direção da santificação para sermos luz como Deus é luz.

Há algo de muito errado e anti-cristão se o que cristãos tem em comum é sua conivência e aprovação do pecado e do mal. Antes eles constituem um sociedade de auto-engano, se for o caso. O que aprova, diante de Deus, a eles e sua comunidade é justamente o andarem na luz de Cristo.

BARCLAY

“Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Lev. 19:2; cf. 20:7, 26). Quem vive em comunhão com Deus está comprometido a viver uma vida de bondade que reflita a bondade de Deus. - 1Pe 1:15-22  Isto significa que para o cristão a verdade nunca é apenas uma verdade intelectual; a verdade é sempre verdade moral; não se trata de uma coisa que só exercite a mente, mas se trata de algo que põe em marcha toda a personalidade. A verdade não é o descobrimento de uma verdade abstrata; é uma maneira concreta de viver. Não só é pensamento, também é atividade.


7b - e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.

O pecado, que é o empecilho à comunhão entre Deus e os homens (Is 59:2), e entre homens e homens (Mt 5:23), já não é mais empecilho, por ter sido purificado pelo sangue de Jesus Cristo. Não é negada a existencia e ocorrencia de novos pecados (1Jo 1:8). Não é possível nem necessário sermos perfeitos para termos comunhão com Deus e com os nossos irmãos, isso portanto significa que Deus e nossos irmãos vão se relacionar conosco mesmo em face dos nossos pecados e imperfeições remanescentes durante esta vida. O sangue de Jesus, isto é, Seu sacrifício expiatório, é quem habilita o cristão a manter essa comunhão que transcende ao pecado remanescente. E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Mt 1:21.


MATHEW HENRY

O grande Deus deve ser representado a este mundo escuro como luz pura e perfeita. Como esta é a natureza de Deus, suas doutrinas e preceitos devem ser tais. Como sua perfeita felicidade não pode separar-se de sua perfeita santidade, assim nossa felicidade será proporcional à santidade de nosso ser. Andar em trevas é viver e agir contra a religião. Deus não mantém comunhão ou relação celestial com as almas ímpias. Não há verdade na confissão delas; sua prática mostra sua tolice e falsidade. A vida eterna, o Filho eterno, se vestiu de carne e sangue, e morreu para lavar-nos de nossos pecados em seu sangue, e procura para nós as influências sagradas pelas quais o pecado deve ser submetido mais e mais até ser completamente acabado. Enquanto se insiste na necessidade de um andar santo, como efeito e prova de conhecer a Deus em conjunto, (...) confiando totalmente em sua misericórdia e verdade por meio da justiça de Cristo, para um perdão livre e completo, e por nossa libertação do poder e da prática do pecado.


BARCLAY

1 João 1:5 O caráter de uma pessoa estará determinado necessariamente pelo caráter do deus a quem adora e, portanto, João começa descrevendo a natureza do Deus que é Deus e Pai de Jesus Cristo, e a quem todos os cristãos adoram. Deus — diz João — é luz, e nele não há trevas. O que nos diz, pois, a afirmação de que Deus é luz? (1) Diz-nos que Deus é glória e esplendor. Não há nada tão glorioso como um brilho de luz que penetra nas trevas, nem nada tão deslumbrante e inabordável como uma luz candente e brilhante. Dizer que Deus é luz nos fala do esplendor e da radiante gloria de Deus. (2) Diz-nos que Deus nos revela. A luz vê-se. A mais genuína característica da luz é que se difunde por si mesma, iluminando as trevas que a rodeiam. Dizer que Deus é luz significa que não há nada secreto, furtivo, encoberto ao redor Do. Deus quer que os homens o vejam e o conheçam. (3) Fala-nos da pureza e da santidade de Deus. A luz clara é o autêntico símbolo de sua pureza resplandecente. Não há trevas que ocultem algum mal secreto em Deus; nem sombra de nada que essa luz tema. A evidência de que Deus é luz surge para nós da pureza imaculada e a imaculada santidade do Deus totalmente santo. (4) Fala-nos da guia de Deus. Uma das mais importantes funções da luz é guiar e tornar fácil o caminho; assinalar o caminho para partir. A uma luz no longínquo horizonte o homem dirigirá seus passos na escuridão da noite. O caminho iluminado é o caminho sem tropeços. Dizer que Deus é luz significa dizer que Deus oferece guia aos passos do homem. (5) Fala-nos da qualidade reveladora na presença de Deus. A luz é a grande reveladora. Falhas ocultas pelas sombras ficam a descoberto pela luz. Manchas e sujeira que nunca poderiam ver-se na escuridão ficam a descoberto pela luz. A luz revela as imperfeições de qualquer material ou trabalho do homem. Da mesma maneira ficam à vista de Deus as imperfeições da vida. Nunca podemos conhecer as profundezas a que tem caído a vida ou as alturas até as que pode elevar-se, até vê-la na reveladora luz de Deus. 

Em Deus — diz João — não há treva nenhuma. Ao longo de todo o Novo Testamento, as trevas significam a insistente oposição à vida cristã, tudo o que a vida cristã não é, nem deveria ser jamais. (1) As trevas significam a vida sem Cristo. Representam a existência do homem antes de encontrar-se com Cristo, ou a vida que se vive separada dEle. João escreve a seu povo que, agora que Cristo chegou, as trevas passaram e brilha a luz (1 João 2:8). Paulo escreve a seus irmãos crentes que uma vez eles foram trevas, mas que agora são luz no Senhor (Efésios 5:8). Deus — diz — nos libertou do poder das trevas e nos conduziu ao Reino de seu amado Filho (Colossenses 1:13). Os cristãos não estão em trevas porque são filhos do dia (1 Tess. 5:4). Aqueles que seguem a Cristo não andarão em trevas, como outros, mas sim terão a luz da vida (João 8:12). Deus chamou os cristãos das trevas à sua luz admirável (1 Pedro 2:9). No Novo Testamento as trevas sempre significam a vida sem Cristo, a vida sem Deus. (2) A escuridão é inimiga da luz. No prólogo a seu evangelho, João escreve que a luz brilha nas trevas e as trevas não prevaleceram contra ela (João 1:5). É a imagem das trevas em seu esforço por sufocar a luz — sem poder consegui-lo. A escuridão e a luz são inimigos naturais e inevitáveis.

(3) As trevas expressam a ignorância da vida além de Jesus Cristo. Jesus convoca a seus amigos a andar na luz, para que as trevas não os rodeiem, pois o homem que anda em trevas não sabe ’aonde vai (João 12:35). Jesus é a luz, e veio para que os seus criam no e não andem em trevas (João 12:46). As trevas significam ignorância, andar tateando, o essencial extravio do homem sem Cristo. (4) As trevas expressam o caos da vida sem Deus. Deus — diz Paulo — pensando no primeiro ato criador, mandou a sua luz resplandecer nas trevas (2 Coríntios 4:6). Sem a luz de Cristo o mundo é um caos, sem forma e vazio, um desordenado vazio no qual a vida não tem ordem nem sentido. (5) As trevas significam a imoralidade da vida sem Cristo. A exortação de Paulo aos homens é que abandonem as obras das trevas (Romanos 13:12). Os homens, uma vez que suas obras eram más, amaram mais as trevas que a luz (João 3:19). As trevas expressam a imoralidade da vida sem Cristo, a vida cheia de coisas que buscam a escuridão porque não podem suportar a luz do dia. (6) As trevas são por natureza estéreis. Paulo fala das obras infrutíferas das trevas (Efésios 5:11). Se as coisas vivas são privadas de luz, seus frutos são raquíticos e escassos. As trevas são a atmosfera sem Cristo, na qual nenhum fruto do Espírito jamais florescerá. (7) As trevas apontam ao desamor e ao ódio. Se um homem odiar a seu irmão, evidentemente anda em trevas (1 João 2:9-11). O amor é a luz do Sol, e o ódio a escuridão. (8) As trevas são a morada dos inimigos de Cristo e a meta final daqueles que não a aceitarão. A luta do cristão e de Cristo é contra os Poderes hostis das trevas deste mundo (Efésios 6:12). E os rebeldes e empedernidos pecadores são aqueles para quem está reservada a bruma da trevas (2 Pedro 2:9; Judas 13). As trevas são a vida separada de Deus. 

1 João 1:6-7 Aqui João está escrevendo para rebater uma errada e herética maneira de pensar. Havia aqueles que diziam estar intelectualmente capacitados e espiritualmente amadurecidos, mas não davam mostras disso em suas vidas. Diziam que tinham avançado tanto no caminho do conhecimento, que o pecado havia deixado de ter importância para eles. Diziam ser tão espirituais que de maneira nenhuma se preocupavam com o pecado. Diziam ter progredido tanto que para eles as leis já não tinham razão de ser. Diz-se que Napoleão disse uma vez que as leis eram feitas para o povo comum, mas não para os que eram como ele. Assim esses hereges pretendiam ter chegado ao ponto em que, ainda que pecassem, não tinha nenhuma importância. Posteriormente Clemente de Alexandria nos conta que houve hereges que diziam que não importa a maneira como alguém viva. Diziam que o homem verdadeiramente espiritual não corria nenhum risco. Irineu conta que afirmavam que um homem verdadeiramente espiritual nem sequer podia contrair alguma infecção ou contágio, não importa as coisas que fizesse. Essas pessoas diziam, em realidade, que se tinham elevado a uma altura em que o pecado não tinha importância.

João responde a estes argumentos insistindo sobre certas coisas. (1) Insiste em que para ter comunhão com o Deus que é luz, a pessoa deve andar na luz, e que se ainda anda na escuridão moral e ética da vida sem Cristo não pode ter comunhão com Deus. Isto é precisamente o que o Antigo Testamento disse séculos antes. Deus disse: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Lev. 19:2; cf. 20:7, 26). Quem vive em comunhão com Deus está comprometido a viver uma vida de bondade que reflita a bondade de Deus. C. H. Dodd escreve: "A Igreja é uma comunidade de pessoas que, crendo num Deus de pura bondade, aceitam a obrigação de ser bons como Ele." Isto não significa que um homem deva ser perfeito antes de ter entrado em comunhão com Deus; se tal fosse o caso, todos nós estaríamos excluídos. Significa que investirá sua vida inteira na cabal compreensão de suas responsabilidades, num esforço por cumpri-los, e numa atitude de arrependimento quando falhar. Implica que nunca pensará que o pecado não tem importa; significa que quanto mais perto de Deus está, mais terrível será para ele o pecado. (2) Insiste em que esses pensadores errados têm uma idéia errônea da verdade. Diz que se pessoas que crêem estar especialmente adiantadas ainda andam em trevas, não estão praticando a verdade. É a mesma frase que usa no Quarto Evangelho, quando fala de quem pratica a verdade (João 3:21). Isto significa que para o cristão a verdade nunca é apenas uma verdade intelectual; a verdade é sempre verdade moral; não se trata de uma coisa que só exercite a mente, mas se trata de algo que põe em marcha toda a personalidade. A verdade não é o descobrimento de uma verdade abstrata; é uma maneira concreta de viver. Não só é pensamento, também é atividade.

As palavras que o Novo Testamento usa junto com verdade são muito significativas. Fala de deter a verdade (Romanos 1:18); obedecer a verdade (Romanos 2:8; Gálatas 3:1); andar segundo a verdade (Gálatas 2: 14; 3 João 4); de resistir à verdade (2 Timóteo 3:8); de extraviar-se da verdade (Tiago 5:19). Existe o que poderia chamar-se "cristianismo de círculo de discussão". É possível ver o cristianismo como uma série de problemas intelectuais para resolver, e é possível ver a Bíblia como um livro sobre o qual pode acumular-se informação esclarecedora. Mas para o cristão, o cristianismo é algo a ser seguido, e a bíblia um livro para ser obedecido. É perfeitamente possível que a eminência intelectual e o fracasso moral andem de mãos dadas. Para o cristão a verdade é algo que primeiro se deve descobrir, e logo obedecer. 

Para João há duas provas importantes da verdade. (1) A verdade gera comunhão. Se os homens realmente andarem na luz, têm comunhão uns com os outros. Nenhuma crença pode ser autenticamente cristã se separar o homem de sua relação com os demais. Nenhuma igreja pode ser exclusiva e ao mesmo tempo ser a Igreja de Cristo. A comunhão é a prova da realidade da verdade. Nada que destrua a comunhão pode ser verdadeiro.(2) Quem conhece verdadeiramente a verdade é purificado, cada dia mais, do pecado pelo sangue de Jesus Cristo. A tradução comum é bastante correta neste ponto, mas é fácil interpretá-la mal. Diz: “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”, o que pode ser lido como uma afirmação geral de um princípio geral, mas não é isso; é uma declaração do que deveria ocorrer na intimidade da vida de cada indivíduo. Significa que todo o tempo, dia após dia, constante e conseqüentemente, o sangue de Jesus Cristo deveria estar desenvolvendo um processo purificador na vida do indivíduo cristão. Em grego, o termo para purificar é katkarizein; originalmente foi uma expressão ritual que descrevia o ritual e as cerimônias e as lavagens e tudo aquilo que permitia a um homem aproximar-se de seus deuses. Mas com a evolução religiosa, o termo chegou a adquirir um sentido moral; e descreve a bondade que capacita um homem a entrar na presença de Deus. De maneira que o que João está dizendo é: "Se você realmente sabe o que o sacrifício de Cristo tem feito, você se realmente está experimentando seu poder, dia a dia você desejará acrescentar encanto e santidade à sua vida, e se dispor melhor para entrar na presença de Deus." Isto configura uma formidável concepção. O sacrifício de Cristo é visto não apenas como algo que repara o pecado passado, mas sim como algo que santifica o homem dia a dia. Trata-se de uma formidável concepção da religião. A verdadeira religião é aquela mediante a qual todos os dias da vida um homem se aproxima mais a seus semelhantes e a Deus. A religião é aquela que produz comunhão com Deus e com os homens, e jamais podemos ter uma sem a outra. 

Em sua Carta João acusa quatro vezes os falsos mestres de mentirosos; e a primeira de tais ocasiões ocorre na presente passagem. (1) Os que dizem ter comunhão com Deus, que é inteiramente luz, mesmo quando eles mesmos andam em trevas, estão mentindo (verso 6). Pouco depois João repete seu juízo de uma maneira apenas diferente. Aquele que diz conhecer a Deus, mas não guarda seus mandamentos, é mentiroso (1 João 2:4). João está assinalando a crua verdade de que o homem que diz uma coisa e faz outra, mente. O homem que diz uma coisa com seus lábios, e outra totalmente diferente com sua vida, é um mentiroso. Quem contradiz suas afirmações com sua maneira de viver, é um mentiroso. João não está pensando no homem que procura esforçar- se e entretanto falha, nem no que ama a Jesus Cristo e é tremendamente consciente de que sua vida está longe de expressar o amor que sente. "Um homem", diz H. G. Wells, "pode ser um músico realmente mau, e contudo estar apaixonadamente apaixonado da música"; e um homem pode estar verdadeiramente consciente de seus fracassos sem deixar de viver apaixonado por Cristo e da vida cristã. João está pensando no homem que pretende ter uma sabedoria superior, possuir eminências intelectuais e até espirituais e que, entretanto, permite-se coisas que sabe perfeitamente que são ilícitas. O homem que professa amar a Cristo e mesmo assim desobedece deliberadamente, é culpado de mentira. (2) Aquele que nega que Jesus é o Cristo é um mentiroso (1 João 2:22). Aqui notamos algo que aparece através de todo o Novo Testamento. A última e definitiva prova de qualquer pessoa é sua resposta a Jesus Cristo. A pergunta última e vital que Jesus Cristo formula a todos é: "Quem dizem os homens que sou eu?" (Mateus 16:13). Um homem confrontado com Jesus Cristo não pode menos que ver a grandeza que há nisso; e se não o admite, é um mentiroso, porque se nega a admitir a preeminência de Cristo. (3) Aquele que diz que ama a Deus e ao mesmo tempo aborrece a seu irmão, é um mentiroso (1 João 4:20). O amor a Deus e o ódio ao homem não podem conviver na mesma pessoa. Se alguém aborrecer a seus próximos, se estiver em desavença com qualquer deles, se houver rancor em seu ânimo contra qualquer deles, isso prova que não ama a Deus verdadeira e cabalmente. Todas as nossas afirmações de amor a Cristo e a Deus não servem absolutamente se em nossos corações há ódio para com qualquer pessoa.

WERNER DE BOOR

“E esta é a notícia que ouvimos da parte dele e vos anunciamos: Deus é luz, e nele não existem trevas.” João não fundamenta essa frase vigorosa. Trata-se do “anúncio” de uma realidade. E essa realidade vem “da parte dele”, daquele Único que vem de Deus e conhece a Deus e por isso é capaz de nos dizer qual é a realidade de Deus. Os apóstolos o “ouviram”, e a igreja por sua vez deve ouvi-lo, da maneira como lhes é anunciado pelos apóstolos.

João não cita Jesus pelo nome nem aqui nem na primeira frase da carta, dessa maneira Jesus se torna grande. “Da parte dele” nós o ouvimos. Não existe outro ao lado “dele”. Todos sabem quem é “ele”. No entanto João tampouco cita determinadas palavras do Senhor para comprovar sua frase. Jesus é, em toda a sua pessoa, “a palavra” que nos traz a notícia de Deus. De tudo o que Jesus foi, disse e fez resplandeceu essa “notícia” de que “Deus é luz”. Nesse ponto não há necessidade de nenhuma “prova” por meio da citação de palavras específicas.

É característico para João que ele não explique as palavras “luz” e “trevas”. Com singela imponência ele as coloca diante dos leitores de sua carta, esperando deles que já saibam tudo o que estas palavras contêm. Ainda que João fale aqui de forma bem abrangente, faremos bem em não tomar as duas palavras de maneira excessivamente genérica, abstrata. Também aqui, cf. a Introdução, p. 298, devemos lembrar o estilo redacional de João, estabelecendo de nossa parte conexões entre afirmações do apóstolo que o próprio João não estabeleceu. Por isso olhamos para a asserção de cunho paralelo: “Deus é amor.” Isso não pode significar: Deus é “luz” por um lado e “amor” por outro. Deus não é polissêmico nem dicotômico. Não, Deus é “luz” precisamente por ser “amor”. Esta “luz” não é uma luz dura e fria. Ela é o brilho de seu amor. Contudo cumpre novamente assegurar, em contraposição a todas as compreensões equivocadas de “amor”, que o amor de Deus é uma “luz” límpida e pura.

Esse entrelaçamento total de “luz” e “amor” também nos leva a compreender concretamente o que se pretende dizer com as “trevas” que não existem em Deus. João não pretende negar que o dia de Deus, segundo a afirmação do profeta Amós, “pode ser trevas, e não luz” (Am 5.18) e que no agir de Deus muitas coisas podem parecer muito “obscuras”. Mas, em correlação com a unidade de “luz” e “amor”, João também interligou “ódio” e “trevas” (1Jo 2.9-11). Tão certo como é impossível que no “amor” haja “ódio”, tão impossível é que na “luz” haja “trevas”. Foi assim que João experimentou Deus em Jesus.

Reconhecer isso é importante para nós. Não é “evidente” que em Deus não haja “trevas”. Religiões e visões de mundo humanas sempre reivindicaram que também toda a escuridão que se encontra no mundo é devida a Deus. Nesse caso havia oposição entre deuses “bons” e “maus”, “claros” e “tenebrosos”. Ou havia no próprio Deus profundezas obscuras que fazem parte de sua natureza insondável. De onde toda essa escuridão viria ao mundo se ela não tiver seu fundamento em Deus, o Criador do universo? Tais idéias podem ter penetrado na igreja e desenvolvido certa atração. Não era brilhante e profundo falar assim de Deus? João formula, em contraposição (no grego com dupla negação), que é totalmente inviável que em Deus haja qualquer escuridão. Isso é evangelho libertador! Jamais precisamos temer que em Deus nos deparemos com algo sombrio ou até mesmo apenas bruxuleante. Como é ambíguo nosso ser! Decepcionamos pessoas por causa disso, dificultando a verdadeira confiança! Involuntariamente transferimos para Deus nossa imagem deturpada. Porém Deus é diferente! Podemos confiar-lhe toda a nossa confiança, porque nele existe somente luz pura. Por meio dessa asserção, tão óbvia em si mesma, de que na “luz” não pode haver “trevas”, João prepara suas frases abruptas em 1Jo 3.6-9. Assim como é intrinsecamente impossível que na “luz” haja simultaneamente “trevas”, assim a permanência em Jesus e o estar abrigado em Deus é inconciliável com qualquer pecado. Isso não é uma determinação arbitrária e desnecessariamente dura. Isso decorre forçosamente da natureza divina de luz. 

6 É nessa direção que João aponta de imediato no versículo seguinte. A notícia alegre que desperta nossa confiança, de que Deus é límpida luz, pode se transformar em juízo sobre nós. “Se dizemos que temos comunhão com ele e (não obstante) andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” Nessa frase tipicamente joanina nos deparamos com um “Se dizemos”, repetido depois nos v. 8-10. Na igreja de Jesus, que vive da “palavra”, muito “se diz”. Mas precisamos enfrentar esse grave questionamento a respeito da relação entre nosso “dizer” e a realidade de nossa vida – que a Bíblia chama de nosso “andar”. Em todos os três casos João aponta para um “dizer” que contradiz a realidade e por isso é “mentira”. Que perigo mortal nos é mostrado aqui, justamente nós, os “devotos”!

Cabe considerar, porém, que em João as palavras “mentir” e “mentira” se referem ao contraste substancial e “objetivo” com a “verdade”. A questão se nos damos conta subjetivamente desse contraste, de modo que consciente e intencionalmente enganamos a nós próprios e a outros, é apenas secundária. “Mentira” não inclui de antemão um veredicto “moral”. Podemos estar em contraposição à “verdade”, sem notá-lo realmente. Somente quando a contradição nos é revelada e apesar disso perseveramos nela, nosso “mentir” passa a ser aquilo que comumente entendemos por essa expressão. “Dizemos que temos comunhão com ele”. Essa comunhão com ele havia sido demonstrada no v. 3 como o alvo da atuação apostólica. Devemos ter essa comunhão com ele, que é luz pura e límpida.

Era precisamente isso que João queria. É nessa “comunhão com Deus” que consiste essencialmente o “ser cristão”. Mas agora pode ocorrer algo terrível. João aparentemente considera isso como realidade nas igrejas. Cristãos asseveram ter comunhão com Deus, mas seu “andar”, ou seja, sua vida de fato, acontece “nas trevas”. João torna essa frase tão desafiadora e eficaz justamente por não “explicá-la” e não se envolver em nenhuma discussão sobre ela. Examine pessoalmente sua vida! Porventura sua vida de fato acontece “na luz”? Ou será ela determinada por forças e poderes sombrios em determinadas áreas? Nessa questão temos de considerar especialmente o “ódio” ao irmão, do qual João ainda falará diversas vezes. O “ódio” é “trevas” em medida singular. Ou será que ocultamos também outras partes de nossa vida diante de Deus em uma escuridão para a qual fugimos? Uma coisa, diz João, ficará clara: “mentimos”, independentemente de estarmos cientes disso ou não. Ainda poderemos, então, dizer uma série de “verdades”, até mesmo verdades corretas, devotas e bíblicas; porém “não praticamos a verdade”. A “verdade” existe para que não apenas seja “sabida”, mas “praticada” e “vivida”. A pergunta sobre o “fazer” se impõe para João de forma direta. Viver é um “fazer” incessante. Esse “fazer” é determinado pela verdade, dada a nós em nossa comunhão real com Deus; então “praticamos a verdade”. Ou então nossa vida real contradiz a verdade que conhecemos e da qual falamos, e assim “mentimos” de uma maneira ainda mais perigosa que aquilo que entendemos por “mentira” no sentido usual, moral.

7 “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz.” João considera possível, e até mesmo algo simplesmente óbvio que “andemos na luz”, que a luz a partir de Deus perpasse toda a nossa vida real e a submetamos a esta luz. Nós, porém, perguntamos assustados: se andarmos na luz, o que será de nós? Sabemos de toda a realidade do pecado em nós. Ele se torna visível na luz. Será que podemos nos apresentar com ele diante dos outros? Porventura não se romperá a comunhão com eles? E será que diante de Deus conseguiremos suportar o fato de estar na luz? João replica: então “mantemos comunhão uns com os outros (ou: com ele), e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” Andar na luz não implica “ausência de pecado”. “Andar na luz” não significa uma vida imaculada e divina. Nem mesmo conseguimos ser pessoalmente “luz” agora. Seremos iguais a ele somente quando o virmos como ele é (1Jo 3.2). Contudo podemos viver “na luz”. E quando toda a nossa pecaminosidade se tornar visível na luz de Deus, que a tudo perpassa, vigorará ao mesmo tempo a grande realidade: “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” Agora João se posiciona totalmente ao lado de Paulo! João também não pensa que exista alguma “vida eterna” que pudéssemos obter sem mais nem menos de Jesus. João está ciente, exatamente como Paulo, de toda a realidade e potência do pecado que nos separa de Deus e conseqüentemente da vida. Por isso fala imediatamente do pecado. Ainda que no geral não saibamos muito acerca de nossos pecados ou até mesmo os neguemos, quando nos colocamos sob a luz de Deus e temos comunhão com Deus, o pecado se torna manifesto em nós com todo seu horror. O que será feito de nós, então? Existe socorro para mim em minha pecaminosidade? Sim! Esse é o cerne da mensagem que João traz, da mesma forma como todos os demais apóstolos. Existe um meio de nos libertar do pecado. “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” Novamente João não analisa nem explica nada, porém o apresenta como fato fundamental, esperando que cada ser humano que tenha relação com “pecado” preste atenção a essa mensagem. Confia em cada leitor que ele próprio pondere o que esse sangue significa para ele. É capaz de realizar o que nenhuma ciência, técnica, arte e poder do mundo jamais alcançarão: é capaz de purificar do pecado. Isso, no entanto, é o que todo

ser humano necessita com maior urgência do que tudo o mais. Aqui se explicita o valor inconfundível e totalmente insubstituível da mensagem de Jesus. Obviamente por isso aquilo que nos está sendo oferecido como meio “para a purificação do nosso pecado” também representa em si algo surpreendente e incompreensível: é “o sangue do Filho de Deus”. Como alguém que é o “Filho de Deus” pode derramar seu sangue por meio da morte violenta? Como esse sangue consegue me purificar hoje? Como poderá “purificar-me” de forma que eu possa apresentar-me alvo e imaculado diante do Deus que é luz? João não trata dessas perguntas. Experimente o poder real desse sangue! Isso é decisivo. João salienta que ele purifica de “todo pecado”, não apenas de alguns pecados ou de pecados leves. Cada pessoa pode permitir que todo pecado, por mais odioso e mau que seja, venha a ser manifesto na luz de Deus e depois encontre a purificação no sangue de Jesus. Que mensagem! Unicamente por meio dela realmente podemos ter “comunhão com o Pai e seu Filho Jesus Cristo” e, nela, “vida eônica”. Agora se torna compreensível por que João afirma que nesse andar na luz também se obtém a “comunhão uns com os outros”. A princípio, de fato o oposto parece ser verdade. Será que não nos refugiamos na escuridão justamente para que os outros não se assustem com nossos pecados e nos repudiem? Acaso não se rompe a comunhão quando o pecado vem à luz? No entanto, quando ocultamos a verdade de nossa vida, a comunhão já está destruída. Estamos separados dos outros por temor e constrangimento, sensíveis e desconfiados em nossa conduta. Em contrapartida, quando temos a coragem de mostrar nossa vida sob luz total pode despertar em outros uma maravilhosa confiança. No entanto, notemos também que não se trata de exibir o pecado em si, mas de testemunhar da experiência do perdão purificador de Deus! Essa experiência abre corações e conduz para um convívio franco, livre e alegre. 






Comentário Biblico Esperança


Escola Charles Spurgeon - Comentários Exegéticos - Felipe Prestes - https://youtube.com/playlist?list=PLllLejb59ly2_57MOtHbXtx69tthLu178