Diz-se que [William] Carey, (...) não era dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens. Entretanto, foi essa característica de persistir, com espírito indômito e inconquistável, até completar tudo quanto iniciara, que fez o segredo do maravilhoso êxito da sua vida. Quando Deus o chamava a iniciar qualquer tarefa, permanecia firme, dia após dia, mês após mês e ano após ano, até acabá-la. Deixou o Senhor utilizar-se de sua vida, não somente para evangelizar durante um período de quarenta e um anos no estrangeiro, mas também para executar a façanha por incrível que pareça, de traduzir as Sagradas Escrituras em mais que trinta línguas. (...) Foi durante o tempo que ensinava geografia (...) que (...) Deus falou à sua alma acerca do estado abjeto dos pagãos sem o Evangelho. Na sua tenda de sapateiro afixou na parede um grande mapa-mundi, que ele mesmo desenhara cuidadosamente. Incluíra neste mapa todos os dizeres disponíveis: o número exato da população, a flora e a fauna, as características dos indígenas, etc., de todos os países. Enquanto consertava sapatos, levantava os olhos, de vez em quando, para o mapa e meditava sobre as condições dos vários povos e a maneira de os evangelizar. Foi assim que sentiu mais e mais a chamada de Deus para preparar a Bíblia, para os muitos milhões de [hindus], na própria língua deles. (...) Certa vez, numa reunião do ministério, Carey levantou-se e sugeriu que ventilassem este assunto: “O dever dos crentes em promulgar o Evangelho às nações pagãs”. O venerável presidente da reunião, surpreendido, pôs-se em pé e gritou: "Jovem, sente-se! Quando agradar a Deus converter os pagãos, ele o fará sem o seu auxílio, nem o meu." Porém o fogo continuou a arder na alma de [William] Carey. (...) Em maio de 1792, pregou seu memorável sermão sobre Isaías 54.2,3: "Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam; não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás à mão direita e à esquerda; e a tua posteridade possuirá as nações e fará que sejam habitadas as cidades assoladas." Discursou sobre a importância de esperar grandes coisas de Deus e, em seguida, enfatizou a necessidade de tentar grandes coisas para Deus. O auditório sentiu-se culpado de negar o Evangelho aos países pagãos, a ponto de "levantar as vozes em choro". Foi então organizada a primeira sociedade missionária na história das igrejas de Cristo para a pregação do Evangelho entre os povos nunca evangelizados.1
11.1 - O QUE É EVANGELISMO E MISSÕES?
A missão primordial do povo de Deus é a evangelização do mundo, visando à reconciliação do homem com Deus. É dever de todo discípulo de Jesus Cristo e de todas as Igrejas proclamar, pelo exemplo e pelas palavras, a realidade do Evangelho, procurando fazer novos discípulos de Jesus Cristo em todas as nações, cabendo às Igrejas batizá-los a observar todas as coisas que Jesus ordenou;
O evangelismo é a proclamação do juízo divino sobre o pecado, e das boas novas da graça divina em Jesus Cristo. É a resposta dos cristãos às pessoas na incidência do pecado, é a ordem de Cristo aos seus seguidores, a fim de que sejam suas testemunhas, frente a todos os homens. O evangelismo declara que o evangelho, e unicamente o Evangelho, é o poder de Deus para a salvação. A obra de evangelismo é básica na missão da Igreja e no mister de cada cristão. O evangelismo, assim concebido, exige um fundamento teológico firme e uma ênfase perene nas doutrinas básicas da salvação. (...) O evangelismo, que é básico no ministério da igreja e na vocação do crente, é a proclamação do juízo e da graça de Deus em Jesus Cristo e a chamada para aceitá-lo como Salvador e segui-lo como Senhor.
A responsabilidade da evangelização estende-se até aos confins da terra e, por isso, as Igrejas devem promover a obra de missões, rogando sempre ao Senhor que envie obreiros para a sua seara;
As massas perdidas do mundo constituem um desafio comovedor para as igrejas cristãs. Uma vez que os batistas acreditam na liberdade e competência de cada um para as próprias decisões, nas questões religiosas, temos a responsabilidade perante Deus de assegurar a cada indivíduo o conhecimento e a oportunidade de fazer a decisão certa. Estamos sob a determinação divina, no sentido de proclamar o evangelho a toda a criatura. (...) A cooperação nas missões mundiais é imperativa. Devemos utilizar os meios à nossa disposição, inclusive os de comunicação em massa, para dar o Evangelho de Cristo ao mundo. Não devemos depender exclusivamente de um grupo pequeno de missionários especialmente treinados e dedicados. Cada batista é um missionário, não importa o local onde mora ou posição que ocupa. Os atos pessoais ou de grupos, as atitudes em relação a outras nações, raças e religiões fazem parte do nosso testemunho favorável ou contrário a Cristo, o qual, em cada esfera e relação da vida, deve fortalecer nossa proclamação de que Jesus é o Senhor de todos.
(Declaração Doutrinária da CBB, Art. 13; Princípios Batistas, Arts. 5.4 ,5.5). 2
11.2 - QUAIS AS BASES BÍBLICAS DESSES CONCEITOS?
11.2.1 - O Evangelho é a boa notícia de que Deus providenciou um meio de salvação dos seres humanos pela obra redentora de Jesus Cristo. Tal obra foi efetuada pela vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo em substituição, pagamento e redenção diante de Deus a favor de todo que se arrepender de seus pecados e crer em Jesus como Senhor e Salvador, adquirindo por meio dEle o perdão dos pecados e a reconciliação com Deus (1Co 15:1-4; 1Pe 2:22-25; 1Jo 1:7-2:2). A vinda do Salvador foi anunciada desde a Queda no Éden (Gn 3:15) sendo revelado o plano da Graça progressivamente pelo relacionamento de Deus com Seu povo ao longo das eras, pelos Seus atos redentivos e pelas palavras dos profetas (Gn 12:3; 22:8; Dt 18:18-19; 2Sm 7:12,13; 23:3-5; Sl 22; Is 7:14; 9:6; 53:1-12). A fé nesse Salvador foi por Deus estabelecida como o instrumento da salvação de todo ser humano, quer tenha vivido antes ou depois dEle, pois todo que invocar o nome do Senhor será salvo, seja no Antigo ou no Novo Testamento (Jl 2:32 = Rm 10:12-13; cf. Gn 4:26 = 1Co 1:2). [Ver mais detalhes sobre a mensagem do Evangelho em 11.3.2]
11.2.2 - Evangelismo é a obra de anunciar o Evangelho a todas as pessoas, convidando-as a crerem nele para serem salvas. Todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo (At 5:42). Nesse ministério os cristãos atuam como embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por meio deles rogasse que os homens se reconciliem com Ele (2Co 5:20). Aqueles que forem convertidos por meio dessa mensagem devem ser orientados a se agregarem a uma igreja local por meio da profissão de fé e batismo (At 2:41).
Uma vez que o evangelismo é dirigido a toda a criatura (Mc 16:15) tal universalidade implica que não somente todos os povos devem ser evangelizados, mas todos os tipos de pessoas dentro de todos os povos. O Evangelho deve ser proclamado aos governantes (At 26:27-29), ricos (Lc 19:2,9), bem como aos pobres (Lc 7:22) e marginalizados (Lc 14:17-24). É todo ser humano que precisa do Evangelho, pois é todo ser humano que está, pelo pecado, sob a condenação de Deus. Nesse ponto reside grande desafio para o evangelista, pois ele precisa fazer um movimento para se comunicar com pessoas com as quais naturalmente não iria interagir na sua vida social, mesmo no seu próprio povo, sabendo que não é somente para com pessoas parecidas com ele que ele precisa pregar, mas também para os diferentes, separados e segregados, e transpor as diversas barreiras sociais, políticas e culturais que separam os homens entre si, para em Cristo fazer um só povo, matando pela Cruz as inimizades (Ef 2:14-17).
11.2.3 - Missões é a extensão da obra de Evangelismo a toda a raça humana em todos os povos, culturas e nações. É o movimento de Deus a favor da raça humana para redimí-la, ordenando que Seus ceifeiros (Mt 9:38) vão por todo o mundo, em todas as nações, (Mc 16:15; Lc 24:47) e evangelizem a paz pelo sangue de Cristo aos que estão longe (Ef 2:13-17), de maneira que o amor de Deus pelo mundo seja manifestado (Jo 3:16) e os gentios glorifiquem a Deus pela Sua misericórdia (Rm 15:9), esforçando-se para anunciar o evangelho principalmente onde Cristo ainda não tenha sido nomeado (Rm 15:20), para que os que ainda não ouviram, entendam (Rm 15:21), e se concretize a colheita profetizada da grande multidão, a qual ninguém pode contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas (Ap 7:9). Pela conversão ao evangelho que a Igreja de Cristo proclama a todo o mundo é que se cumpre plenamente a bênção de Abraão a todas as famílias da terra, no apartar, a cada uma, das suas maldades (At 3:25-26) e justificar pela fé os gentios (Gl 3:6-29). Seu fruto, além da conversão de indivíduos de todos os povos, deve incluir a formação de novas igrejas locais (At 9:31; 14:23), e para esse trabalho específico Cristo levanta evangelistas (também chamados de missionários) dentre o Seu povo a se dedicarem de forma singular (Ef 4:11) se tornando pescadores de homens (Mt 4:19) [Ver Lição 7 - 7.2.8].
11.3 - QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DESSES CONCEITOS?
11.3.1 - Como as Missões devem atingir todas as culturas humanas, os missionários precisam ser preparados para se comunicarem com culturas diferentes. Isso inclui aprendizado do idioma, costumes, organização social e tradições do povo que ele irá evangelizar. Mais do que isso, muitas vezes requererá do missionário um exercício de reavaliação do seu próprio conceito do que é prioritário no Evangelho, distinguindo entre o que realmente é essencial à Missão da igreja e o que é mero método de organização que possa ser adaptado [ver Lição 6]. Até mesmo as regras morais externas podem ter que ser revistas, considerando as diferentes significações culturais, abrindo mão de rigidez em assuntos periféricos, e retendo apenas a essência inegociável dos valores éticos básicos. O missionário precisa imitar Cristo e encarnar-se na cultura a qual vai evangelizar (Jo 1:14), .
O missionário também precisa estar alerta aos próprios condicionamentos culturais da sua sociedade de origem, a fim de não ser encontrado pregando a cultura da sua sociedade ao invés do Evangelho universal: nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (1Co 2:2). Ao longo da História, por diversas vezes o trabalho missionário foi usado por colonizadores estrangeiros como escada para subjugar o povo nativo que foi evangelizado. A separação da igreja da política [ver Lição 2] e o discernimento de que áreas da sociedade a igreja deve tentar transformar e que áreas não [ver Lição 13] ajudariam a diminuir esse problema.
11.3.2 - O evangelismo deve apresentar as verdades básicas do Plano de Salvação. Embora possa ser simples, não deve ser simplório. Mesmo sem detalhamento, e mesmo numa mensagem rápida, é perfeitamente possível passar resumidamente por todas as doutrinas que estabelecem o Plano de Salvação, conduzindo o ouvinte desde a proclamação dos atributos de Deus até a devida resposta do pecador arrependido aos pés da Cruz clamando por salvação, pregando que:
11.3.2.1 - Deus é soberano, santo, justo, criador, sustentador e dono de todos os seres humanos (Ex 15:18; Sl 99:9; Sl 129:4; Gn 1:1; Hb 1:3; At 17:25; Sl 24:1).
11.3.2.2 - Deus tem uma Lei sobre o ser humano, a qual demanda perfeição completa (1Pe 1:16; Lc 10:27; Gn 17:1; Dt 18:13; Mt 5:48;).
11.3.2.3 - A raça humana foi corrompida pela queda de Adão, e por isso não consegue cumprir a Lei, nem deixar de pecar, tendo por consequência sua perdição e condenação (Rm 3:9-23; 5:12,18,19; 8:5-8; Ef 2:1-3; 4:17-19) .
11.3.2.4 - Haverá um dia de Juízo Final onde cada um de nós prestaremos contas a Deus de nossos pecados (2Co 5:10; Ap 20:11,12; Rm 14:11,12).
11.3.2.5 – Deus, porém, nos concedeu por Graça e Misericórdia um meio de sermos salvos da condenação eterna (Rm 5:6-10;15; 11:6; Tt 2:11-14; Ef 2:8,9).
11.3.2.6 - Tal Salvação foi providenciada pela obra de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, em Sua Vida, Justiça e Morte substitutivas, obedecendo a Lei com perfeição por nós e pagando por nossos pecados na Cruz (1Tm 1:9-10; 2:5-6; 2Pe 1:1; Fp 3:9; Ef 1:7).
11.3.2.7 - A vitória e eficácia da Obra de Cristo para salvação foi manifesta pela Sua Ressurreição e Ascensão (At 2:30-36; Ef 1:20-23).
11.3.2.8 - Hoje mesmo Cristo reina sobre tudo e há de voltar a este mundo para ressuscitar todos os mortos, trazer o Juízo Final e criar o Novo Céu e Nova Terra (Mt 28:18; At 1:11; Jo 5:28,29; At 10:42; 2Pe 3:9-13) .
11.3.2.9 – Para ser salvo o ser humano precisa ser regenerado, isto é, nascer de novo pelo poder sobrenatural do Espírito Santo que o converte a Deus por meio de Jesus (Jo 3:1-21; Tt 3:4-7; 1Ts 1:4-10; 1Co 12:3).
11.3.2.10 - Esta conversão inclui o arrependimento dos seus pecados: a convicção, confissão, contrição, repulsa e abandono dos pecados, passando a detestar o mal que antes amava (Mc 1:15; Sl 25; 32; 51; Tg 4:7-10).
11.3.2.11 - Esta conversão inclui a fé: confiança irrestrita em Cristo como seu único e pessoal Mediador, Salvador, Profeta, Sacerdote e Rei, único Caminho e única Esperança, rendendo-se a Ele como Senhor da sua vida (At 16:31; Rm 10:8-17; 1Tm 1:1; 2:5; Fp 3:20,21; At 3:22-26; Hb 7:24-28; At 17:7; Lc 23:42; Jo 14:6; Jd 1:1-4).
11.3.2.12 - Por meio dessa conversão Deus perdoará todos os seus pecados e lhe considerará perfeito como Cristo - Justificação, o receberá como seu próprio filho - Adoção, lhe dará vitória contra o poder do pecado transformando-o gradualmente na imagem de Cristo - Santificação, e lhe receberá em comunhão plena e eterna conSigo, quando morrer, na felicidade indizível do Céu, e quando ressuscitar, na Nova Criação - Glorificação (1Jo 2:12; Fp 3:9; Rm 3:24-26; 4:16-25; 6:1-23; 9:26; Jo 1:12; 2Co 4:10; 5:8; Ap 21:1-7).
11.3.2.13 – Para alcançar tal conversão o ser humano deve suplicar por ela a Deus em oração, com perseverança, expondo-se continuamente à pregação da Palavra na esperança de experimentar verdadeiro arrependimento e fé por meio dela, apegando-se a Cristo, e se submetendo ao chamado do Espírito Santo (Lc 17:5; 18:13; Rm 10:8-17; 2Tm 2:24-26; 3:15; 1Pe 1:23-25; 1Ts 2:13).