13/06/2022

É já a última hora, vem o Anticristo - 1Jo 2:18-26 - Estudo Bíblico 4

 

vem o anticristo

O anticristo, que vem (1Jo 2:18) é algum falso mestre da época de João, pois ele já estava no mundo (1Jo 4:1-3). Ele vem assediar as igrejas da Ásia às quais João escreve. Como dissemos acima, não precisa ele ser da heresia gnóstica, pois as igrejas da Ásia podem estar sendo atacadas por várias heresias diferentes. Nesse trecho, especificamente, ele pode estar falando de algum judaizante que nega que Jesus era o Messias, pois diz: Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho (1Jo 2:22). Afinal, essa negação de Jesus como Messias referida em 1Jo 2:22 não parece ser uma ênfase do gnosticismo, mas muito mais do judaísmo. O falso profeta (Ap 16:13) e o homem da iniquidade (2Ts 2:1-12) poderiam ser identificados com o mesmo, embora este anticristo, mencionado somente em 1Jo e 2Jo, possa ter característica mais de um opositor local, do contexto das igrejas da Ásia, enquanto que esses dois personagens mencionados materializam e representam o judaísmo em geral do século I, na sua perseguição do cristianismo, antes da sua derrota arrasadora pelos romanos em 70 D.C., a partir da qual perdeu sua força como opositor.

Saíram de nós (1Jo 2:19), provavelmente porque apostataram da fé, tendo por um tempo crido e confessado a Jesus nas igrejas de Cristo, mas depois regredindo à reação anti-cristã da sinagoga que rejeita o propósito original de Deus (Lc 7:30). Uma identificação da heresia desse trecho com o judaísmo pode encaixar inclusive naquela outra descrição de heresia que consta no capítulo 4: todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo (1Jo 4:3). Não necessariamente isso seria uma negação gnóstica da encarnação de Jesus, mas pode ser que, judaicamente, esteja o anticristo (o judeu que não aceita Jesus como Cristo) negando que o Messias já esteve entre nós, na pessoa humana de Jesus. 

Tal rejeição, que cumprindo a profecia do Senhor, culminou em um último estado pior que o primeiro (Lc 11:26), tem desenvolvido a falsa religião do judaísmo, como uma reação da incredulidade daqueles israelitas que não aceitaram que Jesus fosse o Messias, e a partir de então, roubaram, distorceram e estragaram o sentido da fé do Antigo Testamento, a transformando em uma auto-exaltação materialista e carnal de uma etnia em detrimento das outras, como se a parentela de Abraão fosse dona de Deus, degradando-se por fim em horrendas blasfêmias, racismo, xenofobia e ódio. Tal ódio ao cristianismo se manifestava, desde o começo, não só pela perseguição aos cristãos (1Ts 2:14-16) mas também pela introdução da prática de amaldiçoar o nome de Jesus nas sinagogas, prática que Paulo testemunha já em seu tempo (1Co 12:3), fazendo coro com João na negação que tais judeus possam ter, como alegam, o Espírito de Deus (compare 1Co 12:3 com 1Jo 4:3 e 1Jo 2:22,23). De fato, eles nunca conheceram nem o Pai (1Jo 2:23), como Jesus disse também (Jo 8:42-44), e só O conhecerão quando aceitarem fazê-lo por meio de Jesus (Jo 14:6). 

É já a última hora (1Jo 2:18), para o julgamento da nação israelita incrédula (Lc 21:22), incitada por Satanás em seu ódio aos cristãos, que por isso, numa última jogada, tais judaizantes atacarão: o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo (Ap 12:12), por isso agora muitos se têm feito anticristos (1Jo 2:18). A Babilônia de Ap 17 - isto é, a Jerusalém incrédula que rejeitou a Jesus como Messias e matava os cristãos (compare Ap 11:8 com Ap 17:18) seria em breve destruída e o Diabo perderia esse instrumento da sua obra infernal de conduzir os homens à perdição. Como todos os demais escritores do Novo Testamento, João escreve antes da destruição de Jerusalém, do Templo e do aniquilamento definitivo do Antigo Testamento (Ap 11:1). Qualquer outra interpretação que pense num anticristo mundial a surgir em futuro distante do contexto de João, corre o risco de incorrer em degradar a veracidade das palavras divinas que é já a última hora  e já agora está no mundo (1Jo 2:18; 4:3) proferidas por João nessa carta. Era a última hora por causa da vinda em juízo do Filho do Homem contra Israel, cumprida na destruição de Jerusalém do ano 70 D.C., essa sim, reiteradamente enfatizada pelo Novo Testamento como acontecendo ainda naquela geração (Mt 24:34), durante a vida de alguns dos contemporâneos de Jesus (Mc 16:28), antes que os apóstolos percorressem todas as aldeias de Israel (Mt 10:23), brevemente (Ap 1:1), em um pouquinho de tempo (Hb 10:37). Não era portanto a “última hora” para aquela Volta Cósmica de Jesus que ainda irá trazer a ressurreição do mortos, Juízo Final, e o Novo Céu e a Nova Terra. Pois essa Volta Escatológica poderia demorar muito tempo, como dizem as parábolas que estaria tardando o esposo (Mt 25:5) e o senhor dos mordomos voltaria muito tempo depois (Mt 25:19).

1João 2:18-29 

18 Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora.

19 Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.

20 E vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas.

21 Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade.

22 Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho.

23 Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; mas aquele que confessa o Filho, tem também o Pai.

24 Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai.

25 E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.

26 Estas coisas vos escrevi acerca dos que vos enganam.

27 E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis.

28 E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não sejamos confundidos por ele na sua vinda.

29 Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele.




O HOMEM DA INIQUIDADE FOI ANÁS BEN ANÁS

MARCOS LOPES

Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele,

Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.

Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição,

O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.

Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?

E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.

Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado;

E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;

A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira,

E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.

E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira;

Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade.

2 Tessalonicenses 2:1-12


Eu sou preterista parcial.

Creio que quase tudo do apocalipse, praticamente tudo do AT, e o conteudo do sermao profetico de Jesus ja se cumpriu.

Creio que o apocalipse é, até cap 19 sobre a destruicao de Jerusalem, como juizo pela rejeicao do Messias e perseguicao dos cristaos, evento ocorrido em 70DC

Nao creio que haja nenhuma profecia do AT que ainda nao esteja ao menos começando a se cumprir. Profecias sobre a gloria de Israel que parecem nao ter se cumprido, o foram parcialmente, em proporcao igual à fidelidade irregular do povo, conforme os principios de Dt 28.

Satanas é um ser espiritual caído que liderou uma revolta de anjos contra Deus, e se opoe ao Reino de Deus de todas as formas que puder.

O falso profeta referido em Ap 13 é de dificil identificação, pode ser tanto a religião romana de adoração ao imperador como o sumo sacerdote daquele tempo (pré 70DC) uma vez que os judeus fizeram inicialmente aliança com Nero e o incitaram a perseguir os cristaos.

A besta do mar é o Imperio Romano ou o imperador romano, Nero e/ou seu sucessor Tito que incitados pelo diabo e pelos judeus perseguiu os cristaos

O anticristo pode identificado com a besta e com o homem da iniquidade (2Ts 2).

Porem tambem pode ser separado.

Embora eu dê credito a teoria do anticristo/homem da iniquidade ser o imperador romano, estou investigando uma tese que seja o sumo sacerdote... isso encaixaria melhor na descricao dele reinar sobre o templo de Deus.

Tambem em 1Jo 'anticristo' é nomeadamente uma designacao dos judeus que nao creram em Jesus - 1Jo 2:22-23 por isso estou cogitando essa segunda teoria.

A mencao ao templo de Deus em 2Ts 2:4 implica que o homem da iniquidade veio antes de 70DC quando o templo foi destruido.

Em que pese a teoria que o homem da iniquidade seja Nero ou Tito como seu representante que destruiu o templo, nessa teoria o assentar-se sobre o templo precisa ser entendido como mera intenção e não realização.

Há outra linha de interpretação possivel:

Anticristo na Biblia se refere invariavelmente a judeus que nao creram em Jesus, tanto como a um tipo de pessoa (1Jo 2:11) como a uma pessoa especifica que materializa em si a oposicao judaica ao cristianismo.

Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. 1 João 2:18

Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; mas aquele que confessa o Filho, tem também o Pai. 1 João 2:22,23

A ultima hora (1Jo 2:18) implica que o anticristo veio enquanto o apostolo Joao estava vivo. Sobre essa localização temporal do anticristo, Joao também diz: “já está no mundo” (1Jo 4:3)

Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo. 1 João 4:2,3

Ora, a atuacao de Anas e seus filhos como sumos-sacerdotes no sec I foi a seguinte:

Anás ben Sete (6–15), Anás o pai, sogro de Caifás (João 18:13). (O Anás mencionado no NT)

Eleazar ben Anás (16–17) (O Alexandre mencionado em At 4:6)

Josefo ben Caifás (18–36), que se casou com a filha de Anás. (O Caifás mencionado no NT)

Jônatas ben Anás (36–37 e 44) (O Joao mencionado em At 4:6)

Teófilo ben Anás (37–41)

Matias ben Anás (43)

Anás ben Anás (63), Anás o filho, mais jovem dos cinco irmãos.

Assim Anas ben Anas, atuando antes da destruicao do templo em 70 DC e depois da escritura de 2Ts , é candidato promissor ao homem da iniquidade referido em 2Ts 2.

A expressao ‘homem da iniquidade’ seria interessante ironia ja que ele entao (Anás ben Anás) teria sido um sacerdote que agiu ‘contra a lei’ (ref. At 23:3 veja Anás ben Sete já fazendo isso antes do filho) agindo ao inverso do seu dever (Ml 2:6,7)

Uma vez que ele atuou no templo, o assentar-se no templo é referido literalmente, e o se opor a Deus é justamente sua oposicao ao Cristo de Deus e Seus discipulos, os cristãos.

Continuando nesta teoria... reparamos que na época que Paulo escreve 2Tessalonicenses o procurador romano que administra a judeia é outra pessoa... Paulo chega a conviver com Felix por pouco tempo depois de preso, sendo Felix substituido por Festo, que governou até morrer em 63 DC. Festo que vai mandar Paulo para Roma para ser julgado por César, conforme Atos nos conta.

Nesse entendimento, reparamos que os tessalonicenses ao Paulo escrever ‘sabem o que retém’ o ‘homem da iniquidade’. Nao haveria dificuldade em crermos que o Espirito Santo revelasse a Paulo, se fosse o caso, o nome do procurador romano que reteria o homem da iniquidade até ser retirado. Mas isso não é necessário. Basta que Paulo e os tessalonicenses saibam que ‘o que o retém’ é o ‘procurador romano que controla a Judeia’, seja ele Festo, Felix, ou algum outro antes de Felix. É a administração romana sobre os judeus que impedia os sacerdotes de exacerbarem sua perseguição, como o vácuo deixado pela morte de Festo deixou claro, sendo ocasião para o extravasamento do ódio dos judeus contra os cristãos, liderados pelo sumo sacerdote Anás ben Anás.

Conta a história que o substituto romano no governo de Festo estava em outra província e demorou a chegar.

Nesse meio tempo Anás ben Anás tomou o sumo sacerdócio à força e praticamente reinou sozinho em Jerusalém amparado por seus capangas.

Anas ben anas , porém ficou pouco tempo no sacerdócio... mas foi tempo suficiente para ordenar a morte de Tiago o irmão do Senhor, escritor da carta bíblica de Tiago, e perseguicao aos cristaos liderados por ele. 




Após sua deposicao do sumo sacerdocio, ele continuou liderando segmentos judaicos clandestinamente, sendo um dos principais entusiastas e lideres da revolta judaica contra roma em 66dc, morrendo durante a guerra em 68dc

 

Essa pretensão de libertação politica pela força que ele promoveu tambem encaixa na descricao de 'anti-cristo' pelo metodo diametralmente oposto ao Cristo de Deus.

 

Mais dois fatos dignos de nota: 

1) Que a reforma do segundo templo iniciada por Herodes o Grande terminou somente no tempo de Anas ben Anas, em 64 DC, sendo essa finalização outro evento propicio à mistificação fanatica dos judeus como ‘sinal’ confirmador da pretensiosa e utópica revolta contra o Imperio Romano.

2) Que conforme a revolta iniciada em 66DC se intensificava, o zelo judaico por ‘purificar’ Jerusalem focou-se também no assassinato e expulsão dos cristãos de lá, selando o destino da cidade, à qual, tendo de si removido o seu ‘sal que preserva a terra’, isto é, os cristãos, por causa dos quais Deus poupa o mundo, só restou o juizo severo e definitivo de Deus, por meio da destruição feita pelo exercito romano em 70DC.



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REFERENCIAS EM MEYER


According to Schoettgen, the Jewish Pharisees and Rabbis are Antichrist. The ἀποστασία is the rebellion excited by them, of the Jews against the Romans; πᾶς λεγόμενος Θεός refers likewise to the rulers; τὸ κατέχον and ὁ κατέχων are probably the Christians who by their prayers effected a respite from the catastrophe, until, in consequence of a divine oracle, they left Jerusalem, and betook themselves to Pella; μυστήριον τῆς ἀνομίας denotes ipsa doctrina perversa.

Noesselt, whom Krause follows, understands Antichrist of the Jewish zealots, but interprets the preventing power, as Whitby does, of the Emperor Claudius.

Lastly, Harduin explains the ἀποστασία of the falling off of the Jews to heathenism. He considers the high priest Ananias (Acts 23:2) as the ἄνθρωπος τῆς ἁμαρτίας, and his predecessor in office as the κατέχων, who must first be removed by death in order to make place for Ananias. At the beginning of his high-priesthood the ἄνθρωπος τῆς ἁμαρτίας will appear as a deceitful prophet, and be destroyed at the destruction of Jerusalem by Titus.


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TEXTO QUE APOIA ESTA IDEIA

JAMES B. JORDAN

https://theopolisinstitute.com/the-abomination-of-desolation-part-2-the-man-of-sin/


“The scribes and Pharisees have seated themselves in the seat of Moses,” Matthew 23:2. Those who reject God make themselves God, Genesis 3.

3. Let no man in any way deceive you, for it will not come unless the apostasy [of many believers, Matt. 24:10] comes first, and the man of lawlessness is revealed, the son of destruction. The next verse makes it clear that this is the apostate High Priest, prince of the Temple, no longer a man of God’s law but a man of lawlessness, no longer a son of Abraham but a son of destruction.

6. And you know what restrains him now, so that in his time he may be revealed. The Church and her evangelism in Palestine created fence-sitters who were restraining apostate Judaism. An example is Gamaliel, Acts 5:33-42. Perhaps the falling away of so many early Christians into the Judaizing heresy would release the Man of Sin.My own best guess is that the restrainer is the presence of believers in Jerusalem, whose presence kept Sodom from being destroyed. Their captain was James.

7. For the mystery of lawlessness [the apostate Judaizing counterfeit of the Pauline Gospel Mystery] is already at work; only he who restrains will do so until he is taken out of the way. The Church would be removed from Jerusalem before her destruction; also possibly this means that the fence-sitters like Gamaliel would either be converted to Christianity or would be “converted” to a whole-hearted adoption of apostate Judaism, and in either event would stop restraining. Josephus records that the Zealots and Edomites slew one such restrainer, Zechariah the son of Berechiah or Baruch, in fulfillment perhaps of Matthew 23:35. After the removal of this restrainer, all hell broke loose. See Josephus, Jewish War 4:5:4. Since Jesus had mentioned this man by name, possibly it is he who is particularly referred to here, as one they “know.”My own best guess, however, is that it is James who is referred to. James was martyred in A.D. 62 by a particularly wicked High Priest, Ananus, who was immediately deposed. He was succeeded by Jesus the son of Damneus, who was succeeded by Jesus the son of Gamaliel. Presiding over all these acting high priests, however, was the retired but still active Ananias, the same Ananias whom Paul rebuked in Acts 23:3. This corrupt man presided over everything in the Temple like a spider. Shortly after James’s murder the Temple of Herod was finally completed. If there is anyone who is a likely candidate for Man of Sin, or at least the first person to occupy that position, it is Ananias. You can read about him briefly in Josephus’s Antiquities 20:9, where the martyrdom of James is also recounted. (I might add that according to Luenemann’s commentary on Thessalonians, which is part of Meyer’s Commentary on the New Testament, an expositor named Harduin suggested that Ananias was the Man of Sin; Meyer’s Commentary, vol. 7, p. 614.)

8. And then that lawless one will be revealed whom the Lord will consume with the breath of His mouth and nullify by the appearance of His coming. The “breath of His mouth” might refer to Gospel preaching, which slew apostate Israel, as Chilton points out in his liturgical remarks throughout Days of Vengeance. But the Greek verb translated “consume” is used for Divine destructive fire in Luke 9:54 and in the Greek Old Testament. My believe is that this verse pictures Jesus as the True Dragon, of whom Satan is the counterfeit (compare Job 41). We can correlate this with the outpouring of fire on Jerusalem in the book of Revelation.The “appearance of His coming” refers to Daniel 7:13 and to Jesus’ prophecies in Matthew 26:64, that the High Priest would “see” (discern) the Son of Man “come” to the Father to receive His Kingdom. When the fact of that “coming” become apparent (“appears”), the Jews will be without excuse, and will be destroyed. Note: the “coming” is not the Second Coming, nor is it a “coming in wrath upon Jerusalem,” but is the event predicted in Daniel 7:13 and shown in Revelation 5. Christ came to the Father at the ascension, and this was “shown” to Israel for 40 years. When Israel rejected this “second chance,” they were destroyed. Jesus’ entrance into the heavenly Temple “nullified” the earthly high priesthood and the earthly Temple.Ananias was slain by Zealots in A.D. 66. Those who followed him enthroned in the Temple were equally bad. The whole company of them was brought to an end in A.D. 70.9. The one whose coming is in accord with the activity of Satan [the High Priest as son of Satan, not of Abraham; “You are of your father, the Devil,” John 8:44], with all power and signs and false wonders [see Chilton and Josephus on the situation in Jerusalem just before the end].10. And with all the deception of wickedness for those who perish because they did not receive the love of the truth so as to be saved. [This clearly describes the situation of apostate Judaism.]11. And for this reason God will send upon them a deluding influence so that they might believe what is false. [Compare Romans 1:21-32 and 1 Kings 22:19-23.]12. In order that they all may be judged who did not believe the truth but took pleasure in wickedness.When the Veil of the Temple was rent, the mystery locked up in the Holy Places was revealed. Parallel to this, the mystery of evil, the counterfeit of the gospel mystery, was also released (Zechariah 5:8; Revelation 17). Initially, many Jews accepted the gospel, but then under the influence of the mystery of lawlessness, many apostatized into the Judaizing counterfeit. Between the years AD 30 and 70, the mystery of lawlessness gained momentum, until it drew forth an Antichrist, the Man of lawlessness, who “incarnated” the mystery of iniquity. Parallel to this social development of wickedness was the continuing building of the Temple in Jerusalem, which was completed in A.D. 64. (Parallel to the development of wickedness and of the false Temple was the development of the true Church and Temple of God during this period.) The statement that this Man sat in the Temple, passing judgments on God Himself (on Christ and His followers), indicates that the focus and concentration-point of this phenomenon was in the High Priest, who was the head of Judaism and thus also of the Judaizers.It was the preaching of the gospel and the presence of believers in Jerusalem that restrained the mystery of iniquity from reaching a climax (Gen. 18:22-33; Rom. 9:29; Rev. 11:8). I believe that the removal of that restraint happened initially with the martyrdom of James, and was worked out as the faithful Jewish Christians were massacred by the Jews and Judaizers during the next few years, immediately preceding the investiture of Jerusalem (see Revelation 7:3-8; 11:3-13; 14:1-4, 12-20; 15:2-4). Revelation 11:3-13 shows that the death of some Christian witnesses caused many Jews to convert, and I believe it is this event that Romans 11 prophesies. This multitude of new believers were massacred in Revelation 14, joining their Savior “outside the city.” This massacre of Christians was the climactic abomination of desolation. At this time, when the Zealots were butchering people right and left, other Christians fled the city (Matt. 24:15-21). By driving the Christians from the city, the Jews and Judaizers drove the presence of God from their midst, leaving the city desolate. The blood of the martyrs of Revelation 14 was poured out on the city in Revelation 16 and was drunk by the Harlot in Revelation 17:3-6.Thus, Paul wrote to the Thessalonians that the world-shaking events they were expecting were not going to happen immediately, but over the next couple of decades they would watch them unfold.




MATHEW HENRY

Versículos 18-23

Todo homem que negar a Pessoa ou algum dos ofícios de Cristo, é anticristo; é ao negar ao Filho, nega também o Pai, e não tem parte em seu favor porque rejeita sua grande salvação. Que esta profecia da aparição de sedutores no mundo cristão nos resguarde de sermos seduzidos. A Igreja não sabe bem quais são seus membros verdadeiros, nem os que não o são, mas assim se prova aos verdadeiros cristãos, que ficam mais vigilantes e humildes. Os verdadeiros cristãos são os ungidos, como seu nome o expressa: são os ungidos pelo Espírito Santo com graça, com dons e privilégios espirituais. As maiores mentiras e mais prejudiciais difundidas pelo pai da mentira no mundo costumam ser falsidades e erros relativos à pessoa de Cristo. Somente a unção do Santo pode guardar-nos dos enganos. Enquanto julgamos favoravelmente todos os que confiam em Cristo como Salvador Divino, e obedecem a Sua palavra e procuram viver unidos com eles, tenhamos pena e oremos pelos que negam a deidade de Cristo ou sua expiação e a obra de nova criação que realiza o Espírito Santo. Protestemos contra a doutrina anticristã e guardemo-nos deles o mais que possamos.

Versículos 24-29

A verdade de Cristo que permanece em nós é o médio para separar-se do pecado e unir-se ao Filho de Deus (Jo 15.3-4). Quanto valor devemos dar à verdade do evangelho! Por ele se assegura a promessa da vida eterna. A promessa que faz Deus é adequada a sua própria grandeza, poder e bondade; é a vida eterna.

O Espírito de verdade não mentirá; e ensina todas as coisas da presente dispensação, todas as coisas necessárias para o nosso conhecimento de Deus em Cristo, e sua glória no evangelho.

O apóstolo repete a amável palavra "filhinhos", que denota afeto. Ele persuade por amor. Os privilégios do evangelho obrigam aos deveres do evangelho; e os ungidos pelo Senhor Jesus permanecem com Ele. a nova natureza espiritual é do Senhor Jesus Cristo. quem for constante na prática da religião nas épocas de prova, demonstra que é nascido do alto, do Senhor Jesus. então, cuidemo-nos de sustentar com injustiça a verdade, lembrando que somente são nascidos de Deus os que levam sua santa imagem e andam em seus caminhos mais justos.



WILLIAM BARCLAY

1 João 2:18

É muito importante que entendamos o que João quer dizer quando fala do tempo da última hora. A idéia dos últimos dias e da última hora aparece ao longo de toda a Bíblia, mas nem sempre significa o mesmo; há um interessante desenvolvimento no significado da expressão. (1) A frase aparece com freqüência nos livros mais antigos do Antigo Testamento. Jacó, por exemplo, antes de sua morte chama seus filhos para lhes dizer o que deveria lhes suceder nos dias vindouros (Gênesis 49:1; cf. Números 24:14). Agora, os dias vindouros ou últimos eram os dias em que Israel entraria na terra prometida e por fim desfrutaria plenamente das bênçãos que Deus lhes tinha prometido. (2) A frase aparece freqüentemente nos profetas. Isaías sonha que nos últimos dias o monte do Senhor será confirmado no cimo dos Montes, e será exaltado sobre as colinas, e todas as nações correrão para ele (Isaías 2:2; Miquéias 4:1). Para os profetas, nos últimos tempos a cidade santa de Deus será suprema e Israel tributará a Deus a perfeita obediência que Ele espera (cf. Jeremias 23:20; 30:24; 48:47). Nos últimos dias se realizará a soberania de Deus e a obediência do povo de Deus. (3) No mesmo Antigo Testamento, e na época entre o Antigo e o Novo Testamento, os últimos dias se relacionam com o Dia do Senhor. É uma concepção com a qual nos encontramos freqüentemente: não há 1 João (William Barclay) 70 nenhuma outra tão profundamente entretecida na Escritura. Os judeus tinham chegado a crer que todo o tempo estava dividido em duas idades. Há a idade presente, totalmente má e entregue ao mal; e a idade por vir, que é a idade áurea da supremacia de Deus; e entre as duas idades, o Dia do Senhor, os últimos dias, uma época de terror, de destruição cósmica e de juízo, as dores de parto do nascimento de um novo mundo e uma nova idade.

Agora, o que temos que ver é isto: os últimos dias, a última hora não significam um período de aniquilação; não significa que todas as coisas deixarão de existir, e que no final haverá uma grande desolação, como a que houve no princípio. No pensamento bíblico o último tempo é o fim de uma idade e o começo de outra. Não só é um tempo de finalização, mas também de recomeço. Não só é um tempo de destruição, mas também de recriação. É último no sentido de que as coisas, como são, passarão, mas não leva o mundo rumo à destruição, mas sim à recriação. Em outras palavras, a última hora e os últimos dias não conduzem à extinção, mas sim à consumação. Eis aqui o centro de toda a questão. "Um homem será aniquilado no juízo do velho tempo, ou poderá entrar na glória do novo?" Tal é a alternativa com a qual João — e em realidade todos os escritores bíblicos — confrontam os homens. Os homens podem optar por aliar-se com o velho mundo, condenado à destruição, ou por aliar-se com Cristo e entrar no novo mundo, que é o mundo do próprio Deus. Aqui reside a urgência para João. Se se tratasse de uma destruição total, ninguém poderia fazer nada. Mas trata-se de recriação, e que um homem entre ou não no novo mundo depende de que tenha entregue sua vida ou não a Jesus Cristo.

Qual é a pertinência de tudo isto para hoje? De fato, João estava errado. Não era a última hora para seu povo. Passaram mil e oitocentos anos, e o mundo ainda existe. Trata-se, então, de uma concepção inconsistente, que pertence a uma esfera de pensamento que deve descartar-se e deixar-se de lado? A resposta é que se trata de uma concepção de uma pertinência eterna. Toda hora é a última hora. No 1 João (William Barclay) 71 mundo há um contínuo conflito entre o bem e o mal, entre Deus e o que se opõe a Deus. E em todo momento da vida, e em cada decisão, a pessoa vê-se confrontada pela opção entre decidir por Deus ou pelos poderes que lutam contra Deus, assegurando-se de tal modo ou deixando de assegurar-se, sua participação na vida eterna. O conflito entre o bem e o mal nunca termina; portanto, nunca termina a eleição; dali que, num sentido muito real, toda hora seja a última hora.

O ANTICRISTO

1 João 2:18 (continuação) Neste versículo encontramos a idéia do anticristo. Anticristo é uma palavra que no Novo Testamento aparece só nas Cartas de João (1 João 2:22; 4:3; 2 João 7), mas expressa uma idéia tão antiga como a própria religião. De acordo com sua etimologia, a palavra anticristo pode ter dois significados. Anti é uma preposição grega que pode significar tanto contra como em lugar de. Strategos é a palavra grega para comandante, e antistrategos pode significar o comandante hostil das forças inimigas ou o segundo comandante, que pode agir em lugar do comandante. De maneira que anticristo pode significar tanto o oponente ou adversário de Cristo como alguém que procura pôr-se em lugar de Cristo. Neste caso ambos os significados são idênticos, mas com esta diferença: se tomamos o significado de alguém que se opõe a Cristo, então tal oposição é aberta e inegável. Mas se tomamos o significado de alguem que procura pôr-se em lugar de Cristo, então o anticristo pode ser alguém que não opera em aberta oposição mas sim procura tomar silenciosamente o lugar de Cristo dentro da Igreja e dentro da comunidade cristã. Num caso seria uma aberta oposição; no outro se estaria minando e infiltrando sutilmente. Não precisamos optar entre esses significados, porque na verdade o anticristo pode agir das duas maneiras.


1 João (William Barclay) 72

A maneira mais simples de pensar a respeito do anticristo é a seguinte: Cristo é a encarnação de Deus e do bem; o anticristo é a encarnação do diabo e do mal. Cristo representa a Deus; o anticristo representa tudo o que está contra Deus, e em oposição a Deus. Começamos dizendo que esta idéia é tão velha como a própria religião; os homens sempre têm sentido que há no universo um poder oposto a Deus. Uma de suas primeiras manifestações aparece na lenda babilônica da criação. Havia nos primeiros tempos um monstro aquático primitivo chamado Tiamat, que foi subjugado por Marduk; mas o monstro não estava morto, e sim adormecido; e a batalha final ainda está por travar-se. Essa legendária idéia mitológica do velho monstro primitivo aparece várias vezes no Antigo Testamento. Freqüentemente é chamado de Raabe, ou a serpente tortuosa, ou Leviatã. “Calcaste a Raabe, como um ferido de morte”, diz o salmista (Salmo 89:10). “A sua mão fere a serpente veloz”, diz Jó (Jó 26:13, TB). Isaías, falando da força do Senhor, diz: “Não és tu aquele que cortou em pedaços a Raabe e feriu o dragão?” (Isaías 51:9, RC). Isaías escreve: “Naquele dia, o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, a serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão que está no mar” (Isaías 27:1). Todas estas são referências ao dragão primitivo. Esta é uma concepção que obviamente pertence à infância do pensamento humano; mas encerra a idéia fundamental, a idéia de que no universo há um poder hostil a Deus. Originalmente este poder foi concebido como um velho dragão. Inevitavelmente, à medida que passava o tempo este poder foi-se personalizando. Cada vez que surgia algum homem de muita maldade que parecia opor-se a Deus e querendo destruir o povo de Deus, a tendência inevitável era identificá-lo com essa força contrária a Deus, considerá-lo como o supremo inimigo de Deus.

Por exemplo, ao redor do ano 168 a.C., surge a figura de Antíoco Epifânio, rei de Síria, quem resolveu deliberadamente varrer o judaísmo da Terra e exterminar a comunidade judia. Invadiu Jerusalém e matou a  milhares de judeus, vendendo dezenas de milhares como escravos. Circuncidar um menino ou possuir uma cópia da Lei eram crimes castigados com a morte instantânea. Nos pátios do templo tinham levantado um grande altar a Zeus, e sobre ele ofereciam carne de porco. As câmaras do templo foram transformadas em bordéis públicos. Foi um deliberado intento de dessacralização, um esforço a sangue frio para varrer a religião judia e destruir a Deus. Foi a Antíoco a quem Daniel chamou "a abominação desoladora" (Daniel 11:31; 12:11). Era a força do anti-Deus encarnada, pensaram os homens. Foi esta mesma frase a que os homens retomaram nos dias do evangelho de Marcos quando diziam que no mesmo templo ficaria "A abominação da desolação" — "O horror espantoso", como traduz Moffatt (Marcos 13:14; Mateus 24:15). Esta passagem refere-se a Calígula, o imperador romano mais que meio louco, que quis pôr sua própria imagem no lugar Santíssimo do Templo. Os homens sentiram que era a atitude de um anti-Deus encarnado. Em 2 Tessalonicenses 2:3-4, Paulo fala do "homem do pecado", aquele que se exalta a si mesmo acima de tudo o que se chama Deus e se adora, e se instala no próprio templo de Deus. Não sabemos de quem fala Paulo, mas novamente surge a idéia de alguém que encarnava tudo o que era contrário a Deus.

No Apocalipse estão a besta e o dragão (13:1; 16:13; 19:20; 20:10). Aqui provavelmente haja outra pessoa em foco. Nero era considerado por todos como um monstro humano. Seus excessos e maldades desgostavam os romanos, e sua selvagem perseguição torturou os cristãos. Oportunamente Nero morreu; mas tinha vivido de tal maneira na maldade que os homens não podiam crer que tivesse morrido. E assim surgiu a lenda de Nero Redivivus, Nero ressuscitado, segundo a qual Nero não tinha morrido, mas sim tinha ido a Partia e cairia sobre os homens à frente das hordas partas. Ele é a besta, o anticristo, a encarnação do mal diabólico e satânico.


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Através da história se produziram estas identificações de pessoas humanas com o anticristo. O Papa, Napoleão, Mussolini, Hitler, foram todos, em seus dias e sua geração, identificados com o anticristo. Mas o fato é que o anticristo não é tanto uma pessoa como um princípio, o princípio hostil e ativamente oposto a Deus; um princípio que bem pode-se pensar que se encarnou nos homens que em toda geração pareceram ser aberta e prepotente e iniquamente contrários a Deus.


A BATALHA DO ESPÍRITO


1 João 2:18 (continuação) Mas João tem uma idéia do anticristo caracteristicamente dele. Para ele, a evidência de que o anticristo está no mundo é a falsa crença e o perigoso ensino dos maus mestres. A Igreja tinha sido bem prevenida de que nos últimos dias chegariam falsos mestres. Jesus disse: “Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e enganarão a muitos” (Marcos 13:6; cf. Mateus 24:5). Antes de separar-se deles, Paulo advertiu os amigos efésios: “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:29-30). A situação que tinha sido antecipada, agora tinha surgido. Mas João tinha um conceito especial de toda esta situação. Quando lemos o que escreveu, podemos apreciar que não pensava no anticristo como num personagem determinado; antes, via-o como um poder de falsidade que falava em e através dos falsos mestres. Precisamente como havia um Espírito Santo que inspirava os verdadeiros mestres e profetas, assim também havia um espírito maligno que inspirava os falsos mestres e profetas. Agora, o mais interessante e importante disto é que para João o campo de batalha está na mente. O espírito do anticristo estava lutando com o Espírito de Deus pela possessão das mentes dos homens. O que torna isto mais significativo é que podemos ver exatamente este processo em operação hoje em dia. Os homens transformaram a doutrinação do espírito humano numa ciência. Em nossos próprios dias e geração vimos como os homens podem tomar uma idéia e repeti-la várias vezes até introduzi-la na mente humana, e até os homens começam a aceitá-la como verdade à força de tanto ouvi-la. Em nosso tempo é muito mais fácil que nunca. Hoje em dia dispomos de muitíssimas formas de comunicação de massa — livros, periódicos, radiofonia, televisão, e os vastos recursos da moderna publicidade. E também sabemos como um perito promovedor toma uma idéia, e mediante o uso desses meios de comunicação chega a infiltrá-la na mente dos homens até o ponto que, inconscientemente, todos ficam doutrinados com ela. Não podemos dizer que João tenha previsto tudo isto, mas viu que a mente do homem era o campo de operações do anticristo. Não pensa em termos de um determinado personagem demoníaco, mas em uma força maligna que procura deliberadamente invadir a mente dos homens; e não há nada mais eficaz para o mal que uma idéia maligna semeada na mente de muitos homens.

Se há uma tarefa especial que confronta a igreja de hoje é precisamente poder compreender a técnica de mobilização das forças e os meios maciços de comunicação para rebater a peçonha das idéias perversas com que são deliberadamente doutrinadas as mente humanas.


OS QUE SAÍRAM DA IGREJA


1 João 2:19-21

Conforme passam as coisas, João vê na Igreja um tempo de desencanto. Os falsos mestres deixaram a Igreja; saíram da comunhão cristã. Não foram excomungados, mas eles saíram voluntariamente, o que mostra realmente que não pertenciam ao corpo da Igreja cristã. Eram estranhos, e suas próprias condutas o manifestaram.

A última frase do versículo 19 pode ter dois significados. (1) Pode significar, como em nossa tradução: “não eram dos nossos”, ou melhor ainda: "Nenhum deles era dos nossos". Quer dizer, por mais atraentes que sejam alguns deles, mesmo que seus ensinos pareçam bons, são totalmente estranhos à Igreja. Podem ter um encanto superficial, mas fundamentalmente são hostis a Cristo. (2) É possível que o significado da frase seja que esses homens se afastaram da Igreja para tornar evidente que "nem todos os que estão na Igreja realmente pertencem à Igreja".

Como diz C. H. Dodd: "O pertencer à Igreja não garante que um homem pertença a Cristo e não ao anticristo". Como assinala A. E. Brooke ainda que não está de acordo em que seja o significado do grego — "A comunidade externa não é prova de uma união profunda". Este segundo significado poderia ser o correto. Aqueles falsos mestres puseram em evidencia com seu afastamento que nem todos os que estão na Igreja pertencem a ela. Como dizia Paulo: “Nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” (Romanos 9:6). E uma época como a que sobreveio a João e a suas Igrejas teve seu valor, porque separou o falso do genuíno. No versículo 20 João segue lembrando a seus irmãos que todos eles possuem conhecimento. As pessoas que se tinham afastado da Igreja eram gnósticos; reclamavam para si um conhecimento secreto, especial e avançado que não era acessível a outros crentes. Paulo lembra aos seus que em questões de fé, o mais humilde cristão não tem por que sentir-se inferior diante do mestre mais erudito. Há, é obvio, questões de ensino técnico, de linguagem, de história, de teologia sistemática que estão em mãos de peritos; mas as verdades essenciais da fé são propriedade de todos os homens. Isto leva João ao último ponto desta seção. Escreve-lhes, não porque ignorem a verdade, mas sim porque a conhecem. Westcott o expressa desta maneira: "O propósito do apóstolo em suas Cartas não foi comunicar-lhes um novo conhecimento, mas sim conduzi-los a um uso dinâmico e decisivo do conhecimento que seus leitores já possuíam". A maior defesa cristã é lembrar o que já sabemos. Não é que necessitemos uma nova verdade; o que precisamos é que a verdade que já conhecemos desperte e chegue a ser ativa, efetiva e eficaz em nossas vidas.

Esta é uma insinuação que Paulo utiliza continuamente; escreve aos tessalonicenses: “No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros” (1 Tessalonicenses 4:9) O que necessitavam não era uma nova verdade, mas sim pôr em prática em suas vidas a verdade que já conheciam. Aos romanos escreve: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus” (Romanos 15:14,15). Não necessitavam tanto de serem ensinados como de serem lembrados. Uma verdade fundamental da vida cristã é que a vida mudaria imediatamente se apenas puséssemos em prática o que já sabemos. Isto não quer dizer que nunca precisemos aprender nada novo, mas, até como somos, temos suficiente luz para caminhar se usarmos essa luz.


A GRANDE MENTIRA


1 João 2:22-23

Como bem assinalaram alguns, negar que Jesus é o Cristo é a mentira mestra, a mentira por excelência, a mentira das mentiras. João diz que quem nega o Filho tampouco tem o Pai. O que há atrás desta afirmação é isto. Os falsos mestres afirmavam algo assim: "É provável que tenhamos diferentes idéias de vocês com relação a Jesus; mas tanto vocês como nós cremos o mesmo a respeito de Deus. Podemos diferir com relação ao Filho, mas coincidimos com relação ao Pai". João responde que essa é uma posição inaceitável, e que ninguém pode negar o Filho e ter o Pai. De que maneira chega a esta conclusão? Chega a esta conclusão porque é a única a que pode chegar qualquer pessoa que aceite os ensinos do Novo Testamento. É o ensino conseqüente do Novo Testamento, e é a afirmação do próprio Jesus que se não é por meio dEle, ninguém pode conhecer a Deus. Jesus disse com toda clareza que ninguém conhece o Pai, exceto o Filho, e aquele a quem o Filho revela o conhecimento do Pai (Mateus 11:27; Lucas 10:22). João escreve em seu Evangelho: “E Jesus clamou, dizendo: Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim vê aquele que me enviou” (João 12:44-45).

Quando, próximo ao fim, Filipe diz que eles se conformariam se Jesus apenas lhes mostrasse o Pai, Jesus lhe responde: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14:6-9). Os homens conhecem a Deus através de Jesus; em Jesus, os homens podem aproximar-se de Deus. Se negarmos a autoridade de Jesus para falar, se negarmos seu conhecimento especial, e sua comunhão especial com Deus, não podemos ter mais confiança no que Ele nos diz. Suas palavras não seriam mais que especulações que bem poderia formular qualquer grande homem. Por conseguinte, à parte dEle não temos nenhum conhecimento seguro de Deus. Assim, pois, negar a Jesus significa, simultaneamente, perder todo arrimo de Deus.

Mais ainda: Jesus afirmou que a reação que alguém tivesse ao era de fato uma reação para com Deus, e que essa reação marcava para sempre o destino de um homem. “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:32-33). É impossível separar Deus de Jesus. Negar a Jesus é perder todo conhecimento de Deus, porque só Ele pode nos brindar esse conhecimento. Negar a Jesus é estar separados de Deus, porque nossa comunhão com Deus depende de nossa resposta a Jesus. 

1 João (William Barclay) 79

Negar a Jesus é verdadeiramente a mentira mestra, pois negá-lo implica deixar de lado totalmente a fé e o conhecimento que somente Ele torna possível.

Poderíamos dizer que são três as confissões de Jesus registradas no Novo Testamento; a confissão de que Jesus é o Filho de Deus (Mateus 16:16; João 9:35-38); a confissão de que Jesus é o Senhor (Filipenses 2:11) e a confissão que Jesus é o Messias (1 João 2:22). E a essência de cada uma delas é que Jesus mantém uma comunhão absolutamente única com Deus. E negar essa comunhão é negar a certeza de que tudo o que Jesus diz a respeito de Deus é verdade. A totalidade da fé cristã depende da comunhão única de Jesus com Deus. Daí que João está certo: aquele que nega o Filho, também perdeu o Pai.


O PRIVILÉGIO UNIVERSAL


1 João 2:24-29

Nesta passagem João insiste com seus irmãos a permanecer nas coisas que aprenderam, e nas quais foram ensinados, e assim manter-se em Cristo. O maior interesse desta passagem radica numa expressão já usada por João. No versículo 20, João lhes falou da unção que receberam do Santo, graças a qual receberam conhecimento. E aqui lhes fala da unção que receberam e lhes ensina todas as coisas. Qual é o pano de fundo da palavra unção? No que está pensando João e o que quer dizer? Teremos que retroceder no pensamento hebreu para poder compreender a idéia que há por trás desta passagem. No pensamento e a prática hebreus, a unção estava associada com três classes de pessoas.

(1) Os sacerdotes eram ungidos. As disposições rituais estabeleciam: “Tomarás o óleo da unção e lho derramarás sobre a cabeça (do sacerdote); assim o ungirás” (Êxodo 29:7; cf. 40:13; Levítico 16:32).

(2) Os reis eram ungidos. Samuel ungiu a Saul rei da nação (1 Samuel 9:16; 10:1). Posteriormente, Samuel ungiu a Davi como rei (1 Samuel 16:3, 12). Deus enviou a Elias a ungir a Hazael e ao Jeú (1 Reis 19:15-

16). O Senhor tinha ungido o profeta Isaías para que levasse as boas novas à nação (Isaías 61:1). Aqui está a primeira coisa significativa. Nos tempos antigos a unção era privilégio de uns poucos escolhidos: sacerdotes, reis e profetas; mas agora é privilégio de todos os cristãos, seja qual for sua dignidade. Primeiro, pois, a unção representa o privilégio do cristão em Jesus Cristo.

Agora, o sumo sacerdote era chamado O ungido; mas o supremo Ungido era o Messias, porque a palavra significa em hebraico O Ungido, e o mesmo significa Cristo em grego. De modo que Jesus era o Supremo Ungido. Surge então a pergunta: Quando foi ungido Jesus? A resposta que a Igreja sempre deu é que Jesus foi ungido com o Espírito Santo em seu batismo (Atos 10:38).

Temos que acrescentar que o mundo grego também conhecia a unção. A unção era uma das cerimônias de iniciação nas religiões de mistérios nas quais se supunha que a pessoa obtinha um conhecimento especial de Deus e um contato especial com Ele. Sabemos que também ao menos alguns dos falsos mestres reclamavam uma unção especial, uma iniciação especial que os aproximava de um conhecimento especial de Deus. Hipólito nos conta as coisas que diziam esses falsos mestres; "Só nós somos cristãos, os que completamos o mistério do terceiro portal, e fomos ungidos ali com inefável unção". Aqueles falsos mestres devem ter estado afirmando possuir uma unção especial que lhes proporcionava um conhecimento especial de Deus. A resposta de João é que o cristão comum é aquele que tem a única unção genuína, aquela que Jesus dá .

Mas quando chegava essa unção aos cristãos, no que consistia e o que proporcionava? A primeira pergunta é fácil de responder. Só havia uma cerimônia pela qual passavam todos os cristãos, o batismo; indubitavelmente, em épocas posteriores, era prática comum no batismo ungir os cristãos com azeite consagrado, como nos conta Tertuliano.

É mais difícil responder à segunda pergunta. Há duas prováveis respostas. (1) Pode ser que a unção signifique a vinda do Espírito sobre os cristãos, no batismo. Na Igreja primitiva isso ocorria da maneira mais evidente possível (Atos 8:17). Se nesta passagem substituíramos a expressão Espírito Santo pela palavra unção, encontraríamos um excelente sentido. Seria o Espírito Santo que tinham recebido, que permanecia neles. Seria o Espírito Santo, repartido por Cristo, aquele que lhes ensinaria todas as coisas.

(2) Mas há outra possibilidade. Os versículos 24 e 27 são quase paralelos em sua expressão. No versículo 24 lemos: “Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio”. E no versículo 27 lemos: “A unção que dele recebestes permanece em vós”. O que ouvistes desde o princípio e a unção são exatamente paralelos. Portanto, bem pode ser que a unção que recebe o cristão seja a instrução na fé cristã que recebe quando entra na Igreja. O cristão é ungido com o verdadeiro conhecimento da fé e da vida cristãs.

Agora, pode ser que não tenhamos que escolher entre estas duas interpretações, mas sim ambas estejam presentes. Isto poderia significar algo muito valioso: que temos duas provas para julgar qualquer novo ensino que se nos ofereça. (1) Acaso está de acordo com a tradição cristã em que fomos ensinados, e que deve permanecer em nossas mentes e corações? (2) Acaso está de acordo com o testemunho do Espírito Santo que fala de dentro?

Estes são os critérios cristãos de verdade. Há uma evidência externa. Todo ensino deve estar de acordo com o ensino e a tradição que se nos transmitiu na Escritura e na Igreja. E temos uma evidência interna. Todo ensino deve submeter-se à prova do testemunho do Espírito Santo em nossos corações.


1 João (William Barclay) 82

João ensina que se um homem permanece na verdade que lhe foi ensinada, e se submete toda verdade à evidência do Espírito Santo, estará capacitado para aceitar só a verdade, e rejeitar toda mentira, e portanto permanecer para sempre em Cristo.


PERMANECER EM CRISTO


1 João 2:24-29 (continuação)

Antes de passar a outra passagem, devemos assinalar duas coisas muito importantes e práticas nesta. (1) No versículo 28, João insiste com seus leitores a permanecer sempre em Cristo de maneira que, quando ele retorne em poder e glória, eles não tenham do que envergonhar-se. Aqui temos uma grande verdade prática. A melhor maneira de estar preparados para a chegada de Cristo é viver com Ele durante todos os dias. Se fizermos assim, sua chegada não nos surpreenderá; será simplesmente a entrada a uma presença mais próxima de alguém com quem vivemos por muito tempo. A melhor maneira de nos preparar para a chegada de Cristo é não esquecer nunca sua presença. 

Mesmo quando tenhamos dúvidas e dificuldades e interrogantes a respeito da segunda vinda física de Cristo, nem por isso deixa de ser verdade. Para todos os homens, a vida chegará a seu termo algum dia. Todos recebem o chamado de Deus a levantar-se e a despedir-se deste mundo. Se nunca pensamos em Deus, e se Jesus tiver sido só uma lembrança distante e obscura que raramente acode à nossa mente, esse chamado será um chamado a sair ao encontro com um estranho, entrar num espantoso futuro incerto. Mas se durante toda nossa vida vivemos conscientemente na presença de Cristo, se dia a dia vivemos e andamos e conversamos com Deus, esse chamado será um chamado familiar a entrar na viva presença de Deus, removendo para sempre o véu dos sentidos e do tempo. Terminantemente, a verdade é que o ânimo de um homem chegando ao fim da vida dependerá inteiramente da maneira em que tenha vivido, pois se encontrará com um Deus estranho ou com um Deus amigo.

(2) No versículo 29, João retoma um pensamento que nunca esteve longe de sua mente. A única maneira em que a pessoa pode provar que está em Cristo, a única maneira em que pode provar que realmente experimentou um novo nascimento, é mediante a retidão de sua vida. O que os lábios de um homem confessarem, sempre será confirmado ou desmentido pelo que façam diariamente.



WERNER DE BOOR

Quem pratica a vontade de Deus permanece em eternidade. João não diz nada mais exato acerca dessa “eternidade”. A rigor ela já está presente na prática da vontade de Deus. Será que aqui se trata daquela “desmitologização” e “atualização existencialista” da escatologia que se pretendeu constatar em João? Será que as linhas do grande evento futuro foram diluídas porque, afinal, aquele que creu em Jesus e cumpriu a vontade de Deus já passou para a vida eterna? Não, novamente sem salientar uma ligação com o anterior, segue-se um novo bloco da carta que se encaminha à proclamação da parusia em 1Jo 2.28-3.3 e, por sua vez, acolhe também a asserção escatológica do primeiro cristianismo.

18 “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem (o) anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.” O tempo histórico não é – ao contrário do tempo físico – decurso homogêneo, mas possui momentos históricos de particular relevância e desemboca em uma “última hora”. Nela também são tomadas decisões últimas, irrevogáveis. Só é possível que seja a “última hora” porque o Redentor do mundo veio e porque só a parusia ainda resta dos grandes eventos de salvação, e todo o resto “está consumado”. A “última hora”, porém, se caracteriza sobretudo pela reação das trevas contra o Redentor presenteado por Deus, por uma última tentativa de derrotá-lo e eliminá-lo. É por isso que a proclamação do primeiro cristianismo falava do “anticristo”, conforme “ouviram” os destinatários da carta. Não surgirão apenas “falsos profetas” e não apenas numerosos “falsos cristos” (Mt 24.24). O “anticristo” é mais que isso. Ele é o adversário direto do Cristo, aquele que tenta eliminar o Cristo de Deus, assumir o lugar dele, arrancando definitivamente o mundo e a humanidade de Deus e apoderando-se deles. À sua maneira, porém, João não traz nenhum detalhe a este respeito. Atém-se à singela certeza da igreja: o anticristo vem.

Entretanto, com seu olhar desperto, guiado pelo Espírito de Deus, ele percebeu algo que também as igrejas precisam ver incondicionalmente para compreender bem os eventos de seu tempo, essa “última hora”, e munir-se de lúcida vigilância. Deus cumpre a profecia do anticristo de tal maneira que “agora, muitos anticristos têm surgido”. Será que nesses “anticristos” João vê precursores do verdadeiro e grande soberano universal anticristão? Ou será que o anticristo esperado já se concretizou nos muitos “anticristos”? A formulação do texto não fornece resposta inequívoca a essas indagações. Na substância, porém, é inverossímil que no aparecimento de falsos mestre que negavam a Jesus o apóstolo tenha visto o cumprimento pleno daquilo que era esperado segundo 2Ts 2 e Ap 13.

O verdadeiro “anticristo” detém poder, e até mesmo poder mundial. Não é apenas “falso mestre” que nega a Jesus na teoria, tentando expurgá-lo da fé da igreja, mas o soberano universal que dissipa a igreja de Jesus com terror e sangue e tenta aniquilar toda recordação de Jesus, para externa e internamente manter a humanidade sob seu próprio e total controle. 19 Não poderemos responder em definitivo a pergunta sobre a relação entre “anticristo” e “anticristos”. Contudo temos de reconhecer isto como essencial no versículo: o apóstolo pretende advertir a igreja para que não olhe erroneamente para o futuro, e por isso entenda mal a atualidade. A igreja não deve aguardar apenas o grande anticristo, que por enquanto nem mesmo é visível, ignorando em vista disso os perigosos “anticristos”, que estão pondo a igreja em risco aqui e agora. Essas pessoas precisam ser levadas tão a sério que se possa constatar “que é última hora”. Aqui teve início uma hostilidade contra Jesus que não tem mais nada a ver com mera divergência de opiniões teológicas, mas é um ataque escatológico contra Jesus e sua posição na história da salvação. Isso é “anticristão”. Como João caracteriza esses “anticristos”? Aponta inicialmente para uma circunstância importante: “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos. Porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco.” O aspecto perigoso dessas pessoas é que não chegam de fora e atacam como perseguidores judaicos ou gentílicos. Não, “saíram de nosso meio”. Saíram das fileiras da própria igreja. Devem até mesmo ter argumentado com esse fato: ora, somos do meio de vocês! Conhecemos muito bem esse seu cristianismo. Agora, porém, encontramos algo maior e melhor e queremos trazê-lo a vocês para substituir essa sua estreita e precária fé em Jesus! O apóstolo ilumina essa asserção com a luz de uma verdade singela: “Porque se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco.” Já naquele tempo, quando aquelas pessoas ainda conviviam com a igreja, estavam separadas da igreja nas raízes ocultas de seu pensamento e sua existência. Não estavam de fato convictas de toda a sua perdição. Por isso não consideravam Jesus e

seu sangue como única redenção possível. Se tivessem partilhado essa experiência básica da igreja, jamais teriam sido capazes de se separar da igreja, mas “teriam permanecido conosco”. De algum modo já existiam neles pensamentos e anseios muito diferentes, para que se deixassem envolver e arrastar pela correnteza do gnosticismo até a negação do verdadeiro evangelho. Que processo avassalador: pessoas que no passado estiveram inseridas na igreja, possivelmente até mesmo como pregadores e mestres, combatem a Jesus como Redentor, ainda assim pretendendo ser cristãos em um sentido “superior”! Como os membros da igreja compreenderão isso? E como pode Deus permitir algo assim? João percebe nesse episódio um grave sentido divino, do mesmo modo como Paulo o percebeu nas confusões em Corinto (1Co 11.19). “Todavia serão manifestos, de que não são todos de nosso meio.” As separações não permanecerão ocultas. O Deus da verdade submeterá à luz o que não está enraizado na igreja. Constitui juízo divino, separação feita por Deus, que acontece aqui na “última hora”.

20 Estaria a igreja refém dos acontecimentos consternadores? De forma alguma. Novamente o apóstolo lhe assevera o que ela possui como riqueza: “Possuís óleo de unção vindo do Santo e todos juntos sois sabedores (ou: e sabeis tudo).” Abandonada ao seu próprio conhecimento e discernimento, a igreja poderia ficar insegura. Mas ela tem chrisma = “óleo de unção”, porque pertence ao Ungido, ao “Christos,” e foi por ele ungida e selada com o Espírito Santo (2Co 1.21). Eles possuem esse “óleo de unção” proveniente “do Santo”, daquele Santo que não tolera nenhuma aparência ilusória e nenhuma mentira e por isso municia sua igreja para que reconheça a verdade. O texto da frase não é inequívoco. Uma parte dos manuscritos traz “sabeis todos”, outra parte, “sabeis tudo”. A documentação tem peso bastante equivalente. “Sabeis todos” é incômodo pela ausência de um objeto. Por isso reproduzimo-lo na tradução como “sois sabedores todos juntos”. A outra afirmação, de que a igreja sabe “tudo” por meio do Espírito Santo, não deveria nos causar incômodo: afinal, foi-lhe prometido expressamente que será conduzida “a toda a verdade” (Jo 16.13), e esse “tudo” retorna no v. 27. Não obstante, talvez justamente por isso a variante “todos”, um pouco mais complicada no v. 20, seja a original. Insere-se bem melhor na correlação do texto. No risco a que está exposta pelos “anticristos” não importa tanto que a igreja “saiba tudo”. Importa que “todos” os seus membros estejam preparados pelo óleo de unção para desmascarar o anticristianismo. 21 No entanto, sendo eles “sabedores todos juntos” “no Espírito Santo”, não seria desnecessária a carta do apóstolo? Mas eles não devem entender a carta como se João os considerasse ignorantes, tendo de instruí-los nas coisas básicas. “Não vos escrevi porque não sabeis a verdade.” Pelo contrário: o apóstolo escreve “porque a sabeis”. Afinal, a verdade, inclusive aquela transmitida pelo Espírito de Deus, não é uma posse despreocupada, inquestionável. A igreja carece de permanente fortalecimento e esclarecimento. Precisamente nesta situação ela precisa deles para superar o choque de ver pessoas conhecidas, que no passado faziam parte da igreja, agora a convidam a se distanciar de Jesus para um pretenso cristianismo “superior” e mais rico. Quando “sabem a verdade”, podem pessoalmente desmascarar as novas doutrinas e refutá-las com toda a clareza, “porque toda mentira não procede da verdade”. É a esse singelo fato que eles precisam se agarrar: a verdade sempre poderá gerar somente “verdade”. Os falsos mestres gnósticos dizem à igreja que, afinal, saíram dela e apenas desenvolveram a verdade primitiva e demasiado estreita, levando-a a uma verdade superior. A igreja, porém, precisa e pode reconhecer que aqui não se trata de “desenvolvimento superior”, mas do esvaziamento e da dissolução da verdadeira e redentora verdade de Deus, ou seja, de “mentira”.

Mas a “mentira” tentará em vão traçar sua árvore genealógica até a “verdade”. 22 Todavia, seriam “mentirosos” esses representantes de um novo e superior cristianismo, de um gnosticismo cristão? Porventura não são totalmente honestos em suas intenções? Não estão convictos de sua causa? Somos muito rápidos em ter disposição para respeitar e reconhecer tudo o que aparece como “convicção honesta”. Para os mensageiros autorizados da verdade de Deus isso é diferente. Ao falar da “verdade” importa-lhes a “realidade” que o próprio Deus mostrou. Essa sua realidade não pode ser encoberta, deturpada e destruída. Quem nega ou falsifica a realidade de Deus é objetivamente um “mentiroso”, ainda que subjetivamente fale e atue por “convicção honesta”. Isso é plenamente real na revelação e apresentação suprema e definitiva da verdade de Deus em Jesus.

“Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?” A confissão originária fundamental do cristianismo está sintetizada nessa breve frase que nos parece ser meramente um nome: “Jesus Cristo.” Na língua hebraica e aramaica na realidade se trata de uma frase completa, podendo sê-lo também no grego: “Jesus é o Cristo.” Acontece que agora “o Cristo” = “o Ungido” já não significa, como originalmente, “o Messias de Israel”. Com toda a certeza Jesus é isso também! Porém há muito a mensagem de Jesus chegara às nações, e o título do Cristo havia se revestido do sentido abrangente que os samaritanos já haviam entendido quando chamaram Jesus de “Salvador do mundo” (Jo 4.42). “Jesus Cristo” não é expressão diferente daquele Kýrios Iesous que Paulo apresenta em 1Co 12.3 como confissão elementar do verdadeiro cristão, gerada pelo Espírito de Deus: “Senhor é Jesus!” Agora, porém, essa confissão elementar está sendo negada! Nega-se “que Jesus é o Cristo”. “Negar” é, como “confessar”, não mero imaginar e opinar, mas proferir e testemunhar expressamente. Aqui não se indaga nem se reflete, aqui algo é proclamado em

alto e bom som para certos grupos “cristãos”: Jesus não é o Cristo! Conseqüentemente já não importa que lugar se atribui a Jesus e que nome lhe é conferido. Segundo o veredicto de João, o cristianismo como tal é anulado pela afirmação “Jesus não é o Cristo”. Ao se contrapor ao cerne da mensagem de Cristo, essa doutrina se torna “anticristianismo”. Aqui o anticristo desloca o Cristo de Deus. “É o anticristo aquele que nega o Pai e o Filho.” 23 João deseja que a igreja veja: não está em jogo um ponto doutrinário isolado, uma opinião teológica divergente, sobre a qual se poderia discutir. Aqui se nega “o Filho”, i. é, toda a natureza de Jesus e seu envio como Revelador do Pai e como dádiva de seu amor reconciliador. Em decorrência, desconhece-se também o próprio “Pai”. A igreja deve se deixar seduzir pelo fato de que os novos ensinamentos evidentemente também falam de “Deus” e alegam captar a “Deus” de maneira muito mais profunda, sublime e pura do que seria percebido no retrógrado cristianismo apostólico. De qualquer forma esse “Deus” não é mais o “Pai de Jesus Cristo”, o Deus verdadeiro e vivo! “Todo aquele que nega o Filho tampouco tem o Pai”. Nada pode ser dissociado nessa questão. Foi o que Jesus declarou fundamentalmente a Filipe, que pediu a Jesus: “Mostra-nos o Pai, isso nos basta.” O “Pai” não pode ser encontrado e “mostrado” em um lugar qualquer. O Pai pode ser visto somente em um único lugar: em Jesus, no Filho. “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). É equivocada a objeção de sempre falar apenas de Jesus, depreciando assim a Deus, o Pai. Essa objeção ignora que Jesus somente é “Filho” porque pertence ao “Pai”, e que por isso todo olhar sério para o Filho vê simultaneamente o Pai que o enviou e para o qual o Filho vive. 24 Por meio da anteposição e do destaque de “vós”, o apóstolo destaca a igreja dos falsos mestres, acrescentando sua exortação a esse “vós” convocador: “Vós, o que ouvistes desde o princípio permaneça em vós.” Exatamente como no “mandamento” em 1Jo 2.7 remete-se ao “princípio” de sua existência cristã. Também aqui a palavra “princípio” não significa mero começo cronológico em si. O “princípio” da vida cristã não é mero “começo”, mas um acontecimento poderoso e criador por parte de Deus, como o “princípio” da criação (cf. 2Co 4.6). Nesse acontecimento eles foram atingidos e vencidos pela verdade de Deus, reconheceram seu pecado e sua perdição, viram a Jesus, o Filho, em sua glória como a reconciliação por nossos pecados (e até mesmo pelo mundo inteiro), tornando-se propriedade de Jesus. É por isso que precisa “permanecer” neles aquilo que “ouviram desde o princípio”. Porque, “se permanecer em vós o que ouvistes desde o princípio, também vós mesmos permanecereis no Filho e no Pai”. Notemos bem essa formulação! João não exorta simplesmente os membros da igreja a “permanecer” com certas opiniões e doutrinas, nem defende um “tradicionalismo” qualquer. Não fala como pessoa idosa que tenta conservar a igreja em trilhos desgastados. Não, é a mensagem ouvida desde o começo que deve “permanecer” neles. Ela é um fator independente, vivo, com força de ação própria. Ela é a “palavra da vida”, a única capaZ de nos conceder a vida verdadeira, preservando-nos assim, segundo a asserção de 1Jo 1.3, na comunhão com o Pai e o Filho. Perderemos a vida se o evangelho ouvido desde o princípio não permanecer em nós. Tão decisivo é “ouvir” a mensagem e permitir que “permaneça” em nós. 25 Em razão disso João acrescenta mais uma breve frase: “E essa é a promessa que ele próprio assegurou: a vida eterna.” Os gnósticos também prometeram “vida eterna” às pessoas. Contudo por que haveremos de deixar que novas doutrinas nos prometam aquilo que “ele próprio” há muito nos prometeu, “ele próprio”, a quem conhecemos, em quem confiamos, que derramou seu sangue para nos purificar do grande empecilho da vida eterna, de nossos pecados? 26s João sintetiza: “Isto que vos escrevo é acerca dos que vos desencaminham.” As pessoas da nova tendência tentam soltar a igreja de todo seu tesouro anterior. Para onde conduzem a igreja? João somente consegue afirmar: para o descaminho! Contudo, não será isso mera afirmação? Será que a igreja deve se curvar simplesmente à palavra do velho apóstolo? Não. João está ciente de que sua situação diante da igreja é bem diferente. Não precisa se preservar com mera autoridade formal. A igreja possui pessoalmente em si, no coração, o “Mestre” verdadeiro, que convence no íntimo. Afinal, o Espírito Santo entrou na igreja junto com a palavra que ouviram no princípio. “Palavra” e “Espírito” estão diretamente ligados entre si. Unicamente a palavra formulada e credenciada pelo Espírito convence e leva à fé. Por seu turno, ouvindo a palavra com fé, somos selados com o Espírito Santo. Para os apóstolos a posse do Espírito pela igreja não representava “problema”, ou uma questão duvidosa que tivesse de ser sempre pedida novamente e, conseqüentemente, provavelmente sem um atendimento claro. A igreja possui o “óleo de unção”, como já asseverou o v. 20. João concorda integralmente com o testemunho de alguém como Paulo. Novamente ele destaca no início o “E vós”, e em seguida confirma à igreja: “E vós, o óleo da unção, que recebestes dele, permanece em vós.” O “óleo de unção” não é novamente retirado. O Espírito não desaparece da igreja, para ser concedido outra vez mediante reiteradas preces. O “óleo de unção” prometido “permanece em vós”. Por isso João passa a reiterar o que afirmou no v. 21. Não escreve porque a igreja seja ignorante e indefesa. Declara expressamente: “E vós não tendes necessidade de que alguém vos ensine.” Porém João também sabe acerca do mistério da ligação do Espírito com a palavra apostólica. O Espírito age e ensina na igreja. Contudo não ensina e age separado da mensagem apostólica e muito menos além dela, mas nela e junto com ela. “Pelo contrário, assim como seu óleo de unção vos ensina acerca

de tudo, assim ela é também verdadeira e não é mentira.” Pelo fato de o apóstolo escrever à igreja, acontece que o óleo da unção os “ensina acerca de tudo”. Quando a igreja ouve a leitura dessa carta, o espírito da verdade lhe dá seu testemunho, e ela sabe com alegria: “Assim ela é verdadeira e não é mentira.” Também aqui não se trata da sinceridade humana do apóstolo e de sua veracidade subjetiva. O Espírito de Deus atesta a realidade objetiva, ensinada “desde o princípio” com clareza na mensagem apostólica e na qual a igreja deve “permanecer” face a todas as “mentiras” espirituais. “Assim como ele (o óleo da unção) vos ensinou, assim permanecei nele.” Ao contrário do v. 24, demanda-se agora não o permanecer no que foi ouvido na igreja, mas o permanecer da igreja na mensagem ouvida. A atuação divina sempre está na frente, como fator decisivo, conforme ocorre no v. 24. Contudo essa atuação divina nunca desiste de nossa participação real. O que ouvimos desde o princípio não “permanece” mecanicamente em nós, mas unicamente quando cedemos espaço à atuação do Espírito de Deus e pessoalmente “permanecemos” por vontade própria sob sua soberania. Tão certo como o Deus vivo é o Deus triúno, eles permanecem “nele”, no Pai e no Filho, quando permanecem no Espírito e em seu ensino.


28 A convocação de “permanecer nele” encerrou o trecho anterior. Olhava-se para a atualidade, na qual o Espírito Santo ensina com poder e confirma a verdade. A igreja não deve permitir que doutrinas ilusórias a afastem dessa verdade que em última análise “é” o próprio Jesus. O novo bloco  da carta reitera essa insistente exortação: “Permanecei nele.” Mas o olhar da igreja é agora dirigido outra vez para o grande futuro ao qual se encaminha. “E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando ele for revelado, tenhamos livre ousadia e não sejamos envergonhados para longe dele em sua parusia.” João, que gosta de usar sua própria linguagem, novamente mostra que apesar de tudo se ateve plenamente ao pensamento do primeiro cristianismo. Como ele, emprega o termo “parusia” para a nova revelação de Jesus. Ou seja, não “desmitologizou” a expectativa futura do primeiro cristianismo nem colocou um acontecimento atual qualquer no lugar da “parusia”, mediante uma reinterpretação existencialista. Não, o curso do mundo não continuará assim para sempre. Terá um fim na nova revelação de Jesus, “em sua parusia”. Então, porém, decide-se nosso próprio “futuro eterno”. Essa decisão é essencialmente a coisa mais importante que pode existir para nós. Nossa eternidade está em jogo nela. Por isso a nova exortação do apóstolo com a cordial interpelação “filhinhos”. “Ele”, em torno do qual agora ocorre a disputa, o próprio Jesus, será revelado com glória. Como “nós”, então, nos apresentaremos? Nessa questão João não dirige nosso olhar para nossas qualidades morais. Trata-se de uma só coisa: será que “permanecemos nele”? Resistimos às seduções que querem nos afastar dele? Encontramos nele a vida e o único Redentor de nossos pecados? Será que desmascaramos a fraude nas doutrinas de salvação que nos prometem

eterna salvação sem Jesus e sua obra de reconciliação? Quando Jesus se manifestar com poder e glória, terão “livre ousadia” todos os que buscam no sangue dele a purificação de seus pecados e unicamente em sua cruz a justiça. Não “serão envergonhados”. Pelo contrário, diante do Salvador não mais oculto, porém manifesto, resplandece com total limpidez o fato de que eles se alicerçam sobre a rocha e que em Jesus possuem com visível glória tudo aquilo que confiantemente esperaram dele. Agora não há mais dúvida. Quem, no entanto, se deixou afastar de Jesus será “envergonhado para longe dele em sua parusia”. Não quis “permanecer nele”, mas procurou a salvação em outra coisa. Agora é obrigado a ter plenamente aquilo que quis e estar “longe dele”, daquele que agora foi revelado como a única salvação e como a vida eterna. Experimenta uma decepção arrasadora: precisa reconhecer que esteve refém da mentira, perdendo a verdade e a vida. “Será envergonhado”. 

29 Não obstante, João quer solidificar a grande esperança futura por meio do olhar para a transformação da existência que se nos apresenta no fato de sermos filhos de Deus. Faz essa transição com a frase: “Se sabeis que ele é justo, reconheceis que também todo aquele que pratica a justiça é nascido (ou: gerado) dele.” João usa aqui, como Paulo repete sem cessar, a expressão “justo”. O grego pretendia ver o ser humano como “belo” e “bom”, perfeito em si mesmo. João, porém, vê o ser humano posicionado diante de Deus e sob a vontade e exigência de Deus, à qual lhe cabe fazer “justiça”. Jesus foi “justo”: todos aqueles que realmente o conhecem sabem disso. Podia afirmar a respeito de si mesmo que cumpria os mandamentos de seu Pai e permanecia no amor dele (Jo 15.10). Com alegria cumpriu “toda a justiça” (Mt 3.15). É assim que também nossa vida pode e deve estar configurada. Mas ninguém tem isso por si mesmo. Ninguém realiza isso por meio de seu próprio esforço. Muitos podem sonhar com a justiça. Certamente é coisa nossa considerar a “justiça” algo belo e necessário. Temos “prazer na lei de Deus segundo o ser humano interior” (Rm 7.22). No entanto, como João afirma aqui, está em jogo o “praticar”: “todo o que pratica a justiça”. É aí que se situa nossa miséria natural: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.” (Rm 7.19). Isso somente mudará por meio de um acontecimento radical que João classifica como “ser nascido dele”.


HENRIQUE SCHIMITT

O ensino fundamental dessa passagem, que o apóstolo João ministrava aos cristãos do primeiro século que estavam sendo influenciados pelo Gnostismo, é que os verdadeiros profetas e mestres confessarão que “Jesus Cristo veio em carne” e os falsos mestres e falsos profetas negarão esse fato ou então negarão que Jesus veio de Deus. Esse é o espírito ao qual João se referiu como o “anticristo”, pois a exegese é simples: João não fala de uma pessoa, mas de quem não confessa que Je fala de uma pessoa, mas de quem não confessa sus veio em carne, portanto, esse é o ESPÍRITO do anticristo.

Quando esse anticristo esteve operando, segundo as palavras de João? O versículo é claro: “[ele] agora já está no mundo”. Ou seja, ele estava ativo no primeiro século no tempo de João. Mais especificamente podemos concluir que João estava atribuindo a atividade do anticristo aos “muitos falsos profetas [que] têm saído pelo mundo”. Muitos teólogos têm dificuldade em aceitar essas referências de tempo, devido ao pressuposto futurista de que é necessário encaixar cada passagem sobre o fim dos tempos na suposição de que tudo vai se cumprir no futuro. Uma teologia apostólica, livre de paradigmas preconcebidos, não tem preocupação com essa limitação hermenêutica, apenas não é obrigado a encaixar nenhuma passagem no passado ou no futuro. A teologia apostólica procura entender a passagem em seu contexto e ambiente histórico, procuram indicações dentro do texto e as relacionam com o momento histórico a qual a passagem se aplica; em seguida é verificado se existe algum evento ou fato histórico claro (como nesse caso do gnosticismo) que corresponda à referência bíblica.

Adotando essa perspectiva quando se lê a passagem, observaremos duas referências de tempo claras no texto de 1Jo 4:1-3:

1. “Têm saído pelo mundo”;

2. “Já está no mundo”.

Não há dúvidas de que João escrevia sobre um anticristo que estava ativo durante o período em que o apóstolo esteve vivo. No versículo seguinte, João não dá uma definição do anticristo, porém ele amplia o entendimento, pois há muitos anticristos, não apenas um. Além disso, o versículo ainda diz que os anticristos já haviam aparecido: “Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado muitos anticristos se têm levantado muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora” (1Jo 2:18, ARA grifo nosso).

A passagem de 1João 2:22, acrescenta alguma coisa ao entendimento: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, Esse mesmo é o anticristo, Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o Filho” (1Jo 2:22, ARA).

Essa descrição do anticristo é semelhante àquela que já foi estudada. O anticristo é aquele que nega que Jesus é o Cristo, negando também o Pai e o Filho. O quarto e último versículo que fala do anticristo é: “Porque já muitos enganadores já muitos enganadores já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo” (2 Jo 1:7, ARA, grifo nosso). Observando essa descrição do anticristo, pode-se perceber como o apóstolo João está lutando claramente contra o ensino herético do gnosticismo do primeiro século. Ou seja, João estava falando sobre um enganador (ou um espírito enganador) que agia na Igreja naquela época. Isso é tudo, e definitivamente não há outras passagens que usem a palavra ou façam referência ao “anticristo”. Para os cristãos que fazem uma hermenêutica levando em conta o contexto histórico dos escritos de João, fica claro que ele está falando dos mestres (falsos) gnósticos, contra os quais estivera confrontando durante o seu ministério. Essa constatação pode ser muito perturbadora para cristãos que foram ensinados na visão futurista (dispensacionalista), e pode ser um desafio desapegar-se de um ensino tradicional, que agora é posto em cheque.3

Uma boa conclusão do assunto eu transcrevo a seguir, como teólogo tem meu total endosso; é do autor Dr. J. Welton: “O anticristo não é e nunca foi uma pessoa; é um sistema espiritual de falso ensino, especialmente o Gnosticismo. Jesus é o perfeito cumprimento de Daniel 9, não há anticristo nessa passagem. O homem do pecado foi um indivíduo do primeiro século; o que o segurava foi outro ― especialmente João Levi e o Sumo Sacerdote Ananus. A besta do apocalipse é o império Romano, especialmente sob Nero. Não há nada na Bíblia que aponte para um futuro com um governo mundial, como foi popularizado no último século” (WELTON, 2012, p. 128).


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